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Melhore a sua qualidade de vida

Viver saudavelmente a vocação

Viver saudavelmente não é apenas não ter doenças, mas, em concordância com a OMS, conseguir um estado de bem-estar físico, mental e social. Foto © Petko Ninov.
Viver saudavelmente não é apenas não ter doenças, mas, em concordância com a OMS, conseguir um estado de bem-estar físico, mental e social. Foto © Petko Ninov.

Jornal eletrónico “Sete Margens”,

Artigo - https://setemargens.com/viver-saudavelmente-a-vocacao/

 | 22 Set 2022

Decidi escrever sobre isto na reentrada após férias: frequentemente, estas semanas são tempos desafiantes, que nos levam a tentar não ceder às exigências da vida de forma desequilibrada. Com isso, evitamos ficar tão cansados rapidamente, como nos sentíamos antes de ter parado o nosso trabalho e as nossas obrigações quotidianas, profissionais e outras.

Viver saudavelmente não é apenas não ter doenças, mas, em concordância com a Organização Mundial de Saúde (OMS), conseguir um estado de bem-estar físico, mental e social. Deste modo, para alcançar a perceção de uma vivência saudável de qualquer vocação, é importante olhar para o que é uma vivência saudável da vida.

Entendo que qualquer vocação é digna, desde que seja objeto de um discernimento maduro e consistente e que nos mobilize, a partir daquele, para a verdadeira consciência da nossa missão.

Muito se fala daquilo que está errado, das formas desajustadas de existir; mas, de modo tranquilo e simples, podemos começar a olhar construtivamente para o que nos faz ser e estar bem, seja isso o que for e em que condição for.

Deste modo, todas as vocações de vida devem constituir uma oportunidade para bem nos relacionarmos com os desafios que são colocados no nosso caminho. Somos seres biológicos, psicológicos, sociais e espirituais e pragmatizamo-nos, se assim podemos dizer, porque pensamos, sentimos e agimos.

Assentamos os nossos percursos em alguns pilares dos quais me apetece destacar a memória, enquanto guia estruturante; a motivação, que poderíamos metaforizar como sendo o motor de arranque e de suporte da consistência das nossas condutas, e a autoestima, que é como quem diz a impressão que temos sobre nós mesmos. Há quem a defina como julgamento, mas, pela conotação que este acarreta, prefiro não o fazer.

Conseguir escolher viver por amor e não por medo faz toda a diferença para a saúde mental. Na verdade, alguns dos “fantasmas” que temos de compreender para nos libertarmos deles, são este mesmo (o medo), a culpa e a vergonha, essa inquietação com aquilo que pensamos que os outros pensam de nós.

Também em qualquer vocação é fundamental construir a liberdade de não se deixar guiar por aquelas que considero serem as ambições menos positivas que mais proliferam no mundo dito desenvolvido, neste século XXI – o prestígio (aos olhos dos outros), o poder e o dinheiro.

Todos, sem exceção, precisamos de nos conceber como seres em relação com quem nos rodeia, mas também connosco mesmos, com Deus e com o mundo, para já não falar da relação que também precisamos de ter com o tempo e com a própria vida que nos é dada e que, para os que temos fé, representa “apenas” uma etapa da nossa existência.

Todos somos, enfim, gestores das nossas prioridades, dos nossos equilíbrios e das nossas missões, mas precisamos de saber como fazer tudo isso para vivermos saudavelmente. Para tanto, vale a pena invocar apenas algumas sugestões que devem ser entendidas em jeito de pistas de reflexão:

– Integrar um bom grupo de pares;
– Conseguir ter a capacidade de não ser pedinte de afetos, alcançando um bom equilíbrio afetivo;
– Saber que nem todos podem ser tudo só porque são excelentes pessoas, estejamos, ou não, a falar de vocações consagradas. Uma coisa é ter um bom desejo. Outra é ser capaz de viver em harmonia com ele, com delicadeza, dedicação, alegria genuína e coerência;
– Disponibilizar-se a trabalhar a sua história, meio de transporte até ao presente, a fim de ser apenas produto, mas não ficar refém dela;
– Alcançar autonomia e equilíbrio emocional;
– Tomar consciência de que autoestima é bem diferente de arrogância e de narcisismo, e dedicar-se a crescer em descrição e em humildade;
– Alcançar a capacidade de acautelar as “idealizações do que não foi vivido”;
– Construir pouco a pouco a capacidade de se sentir seguro porque confia e não porque controla;
– Investir nessa tão necessária capacidade de lidar com a frustração e de adiar a gratificação com persistência e perseverança;
– Conseguir que o reconhecimento dos outros seja um valor acrescentado e não uma necessidade para se confirmar;
– Alcançar a maturidade na interdependência e não na submissão ou, pelo contrário. no autoritarismo dominador, narcísico, ditatorial e idolátrico;
– Ser autêntico;
– Não ter agendas próprias e/ou escondidas…

Em síntese, crescer em maturidade, usando sabiamente a liberdade e a responsabilidade, em busca de equilíbrios e de sentido, como sugere e tanto podemos aprender com Vitor Frankl.

O texto já vai longo e, por isso mesmo, não vou detalhar domínios que teriam abordagens complementares, não necessariamente coincidentes, em função de vidas específicas, como é o caso da afetividade e da sexualidade nas vocações consagradas. Preferi, neste artigo, mostrar que, todos, sem exceção, temos enormes desafios comuns, se quisermos viver saudavelmente, no que de nós depende. Acredito que esta que deve ser uma insaciável procura, está verdadeiramente ao nosso alcance, sendo necessário investir nela com dinamismo e empenho, sem que a acomodação e a perversidade possam fazer parte do léxico de possíveis condutas.

Tenho consciência que este artigo é bastante denso, pois quase cada linha pode ser pretexto de detalhado desenvolvimento. Espero verdadeiramente que, para quem o lê, esse objetivo seja atingido.

Termino citando um provérbio árabe que diz mais ou menos isto: não digas tudo o que sabes, não faças tudo o que podes, não acredites em tudo o que ouves, não gastes tudo o que tens. Porque quem diz tudo o que sabe, quem faz tudo o que pode, quem acredita em tudo o que ouve, quem gasta tudo o que tem… muitas vezes diz o que não convém, faz o que não deve, julga o que não vê e gasta o que não pode.

Assim sendo, passo a passo, poderemos chegar a uma consistente e progressiva pedagogia de bem viver.

Uma dor com nome

Há temas que nos são particularmente difíceis de falar, pelo teor sensível do assunto e porque têm uma carga emocional carregada de memórias e histórias que nos fazem entristecer. Há uma parte do sofrimento que é sempre muito associada ao facto de nos sentirmos sozinhos na nossa dor, por muito que estejamos rodeados de amigos ou pessoas com quem falar há sempre uma parcela do que vivemos que não conseguimos expressar nem partilhar, é uma espécie de solidão acompanhada.

Tenho uma grande amiga, daquelas a quem já chamo família, que perdeu os pais no espaço de um ano, numa altura da vida em que tudo estava a começar. Era, eramos, muito jovens, com os sonhos todos pela frente. A Maria (nome fictício) ainda não tinha 30 anos quando soube que a mãe estava doente com um cancro, daqueles que aparecem sem aviso.

Um dia destes resolvemos falar sobre isto de forma mais séria, no sentido de darmos a conhecer o que a Maria sentiu e como tem vivido com estas perdas. Era uma conversa adiada, para as duas, porque nunca sabemos se é a altura certa para falar destes assuntos, acho que o que a Maria quis, foi dizer aos outros que nunca se esquece nem se deixa a dor no passado mas que é possível ir elaborando o que se sente e tornar esta perda em memórias e lembranças boas. O tempo não repara nem devolve a pessoa amada, mas transforma o insuportável em tolerável.

– Queres-me falar um pouco de como é que as coisas aconteceram?

A morte dos meus pais deixa-me, até hoje, passados cerca de 16 anos, marcas e saudades. Eu acho que a dor se mantém, não passou, como todos julgam e querem fazer-me crer. A minha mãe foi operada em 2000, correu bem, mas em 2002 o cancro apareceu novamente. Eu e as minhas irmãs não queríamos acreditar quando nos disseram “não é operável, preparem-se para o pior” mas, não aceitámos. Foi um choque, sabíamos que a vida dela estava a prazo, mas, pelo menos para mim, tudo aquilo não estava a acontecer.

– Houve alguma forma de se prepararem para o que ia acontecer?

Não, não nos conseguimos preparar, acho que isso não existe, ou pelo menos não existiu para mim. Primeiro ficas em choque, pensas que não há cura, não há tratamento, mas que tem de haver qualquer coisa. Depois, começas a pensar quando é que vai ser. Todos os dias deitava-me e acordava a pensar nela e no que estava a acontecer, todas as noites são um ponto de interrogação acerca do amanhã e sentes medo, muito medo.

– Consegues descrever como te sentias?

Nem sei bem, era um vazio, parece que caiu tudo. Só na reta final é que me apercebi mesmo de que ela ia partir. Hoje percebo que estive num longo período de negação. Fiz sempre o que vocês psicólogos chamam de “fuga para a frente”. Sempre fui muito positiva, achava sempre que ela ia melhorar, mas isso não aconteceu. Parecia um pesadelo o que estava a acontecer. Era muito ligada à minha mãe, eramos muito próximas, talvez por ser a mais nova das três irmãs.

– E à tua volta, como era?

O meu pai apoiou-nos muito e tínhamos uma pessoa a ajudar em casa a tratar da minha mãe, mas foi quando a vi tão frágil e dependente que caí em mim. Nestas doenças longas, todos os dias perdes a pessoa, estava sempre a sentir que ia perdendo a minha mãe aos bocadinhos.

– Achas que era diferente, se fosse de repente, sem aviso?

Não sei, mas o sofrimento é prolongado até ao dia em que a pessoa parte, estás todos os dias em ansiedade, estás sempre a pensar quando é que será, não desligas um segundo. São momentos de sofrimento insuportáveis.

– Falaste com ela sobre o que estava a acontecer?

Não, não conseguimos falar. Mas eu acho que sabia o que ela sentia.

– A que é que te agarraste para sobreviver a esse momento?

Tinha acabado de ser mãe, agarrei-me à minha filha, foquei as minhas energias nela. Mas por outro lado, isso também era ambíguo, porque revoltava-me saber que ela não ia conhecer a avó, por ex. Vivi todo o tipo de sentimentos, em simultâneo. Ainda hoje, há coisas que faço com a minha filha que a minha mãe fazia comigo e lembro-me sempre dela.

– Como é que foi depois da tua mãe morrer?

Entrei em modo automático, as datas especiais deixaram de ter o mesmo sabor, fingi que nada tinha acontecido. Às vezes ia ao cemitério, era um momento que representava paz, não ia para chorar, só para recordar e sentir a presença dela (…), também me custou voltar a casa dos meus pais, foi muito difícil mesmo. O meu pai era doente cardíaco, desde os 40 anos e com a morte da minha mãe a saúde dele agravou-se. Esteve internado 2 meses nos cuidados intensivos e acabou por morrer, acho que ele não aguentou ficar sozinho, sem a minha mãe…

– Alguma vez pediste ajuda profissional?

Sim, a seguir à morte do meu pai sentia-me muito cansada, triste e fui ao médico. Disseram-me que estava deprimida e medicaram-me. Ainda fui a uma psicóloga, mas não resultou, não houve empatia.

– Nas coisas que te diziam houve alguma coisa que achas ser importante dizer, a quem nunca passou por este processo?

Sim, dizer que a dor não passa, é permanente. Já não sinto a onda de angústia que me assaltava de repente e me fazia saltar as lágrimas, mas continuo a achar que me tiraram os meus pais cedo de mais. Depois, o tempo também não ajuda, os meus pais continuam a fazer-me falta todos os dias.

– Achas que as pessoas não viam isso?

Acho que as pessoas não sabem respeitar esta dor, falam muito friamente sobre isto como se fosse simples, odiava quando me diziam coisas como “força, a vida continua ou o tempo cura tudo”. Achava uma frieza, uma leveza, um despreendimento. Sentia que as pessoas não conseguiam sentir o que eu sentia e deixei de partilhar.

– Sei que mais tarde pediste novamente ajuda profissional

Sim, mas só recentemente, há dois anos. E posso dizer que a equipa que me acompanhou salvou-me a vida. São profissionais, sabem o que estão a fazer e eu senti logo uma empatia com a minha psicóloga. Estou em acompanhamento, e falo muito recorrentemente deste tema, mas é curioso que quando iniciei achei que já tinha feito muito mais o meu luto, mas pelos vistos não.

– Como é que descreves a relação com a tua terapeuta?

Ela é disponível para mim, não me julga, posso falar do que quero e sinto que estamos sempre alinhadas no pensamento e sentimentos. Ela dá-me ferramentas para eu lidar com tudo, principalmente ajuda-me a relativizar as coisas, a dar a importância que elas têm e a pôr-me mais vezes em primeiro lugar. Ensina-me que a minha dor tem nome e que a posso recordar através das memórias que guardo e isso nunca vou perder!

Sónia Garrucho
sonia.garrucho@conforsaumen.com.pt

 

Adição na Família… (A)normal disfuncionalidade

A adição a álcool e drogas é uma doença crónica tratável e a sua recuperação é um “assunto” de Família.

Durante os períodos que podemos apelidar de adição ativa, pautados pelo consumo abusivo e continuado das substâncias psicoativas, o adicto é considerado “o problema”. Quando este mostra disponibilidade para se envolver em qualquer tipo de intervenção terapêutica, procurando um caminho para a abstinência e uma nova forma de vida, a família em seu redor agarra esta possibilidade com fervor. Investe-se tempo pessoal, recursos financeiros psicológicos, motivacionais, numa tentativa para que o nosso familiar se restabeleça. Paralelamente a este processo parece sempre minimizar-se, de um modo notório mas objetivamente incompreensível, a devastação que a própria família sofreu com a adição ativa.   

Para o adicto a recuperação significa uma vida nova. Significa confrontar-se consigo mesmo. Significa aceitar-se como um ser humano com valor, sem álcool e drogas. Significa responsabilizar-se profundamente por si mesmo; aprender a reger-se por um reconstruído quadro de valores e reformular padrões comportamentais minados pela toxicidade auto-destrutiva das substâncias. Este caminho exige coragem e a ajuda da sua família, mas a realidade é que esta precisa, ela própria, de ajuda, pois sofreu as consequências da dependência tal como o adicto. E real é também a sua possibilidade de se “tratar” e readquirir um estilo de vida saudável, mesmo que o “seu” adicto não consiga ele próprio entrar em recuperação.

Este é um processo complexo. Todas as mudanças implicam profundos reajustamentos e normalmente os familiares não antecipam a necessidade de eles próprios precisarem de mudar, e de terem ajuda para tal. A forma como se organizaram, na maioria dos casos durante anos, em torno do problema, habituando-se e sobrevivendo, “normalizou” uma disfuncionalidade permanente na forma de viver, de pensar, de sentir, de agir.

Para um adicto, entrar em recuperação, assumir o objetivo da abstinência e um consequente novo estilo de vida, implica assumir uma série de perdas. As próprias substâncias, amigos e locais de consumo, rotinas diárias e padrões comportamentais ritualizados são apenas algumas destas perdas mais óbvias. Compreensivelmente, pensa-se no imediato que perder uma série de coisas más e geradoras de sofrimento não causará nenhum impacto. Mas não é assim. Mesmo a perda da dor, se falamos de uma dor habitual, implica reajustar-se. Veja pequenos mas notórios exemplos de como reagimos à mudança. Vive-se num apartamento numa qualquer esquina de cidade onde o ruído das pessoas e do trânsito faz parte do dia a dia. Não se descansa muito bem, mas dorme-se. Procura-se umas férias no campo, buscando calma, e descobre-se que, nas primeiras noites, não se consegue dormir, estranhando o silêncio ou os barulhos da Natureza. O crescimento e saída de casa dos filhos. À satisfação e alívio de os ver iniciar uma nova etapa das suas vidas pode contrapor-se uma profunda tristeza causada pela separação. A situação de reforma, olhada antecipadamente como uma recompensa por uma vida de trabalho, que por vezes leva as pessoas a descobrirem não estar preparadas para a perda das suas ocupações diárias, deprimindo-se e desorganizando-se num dia a dia agora sentido como “vazio”. É deste tipo de reação à perda que falamos.  

Nestes exemplos, tal como na família de um adicto, pode estar a dar-se a perda de um peso negativo, mas também de um foco importante e que se tornou estrutural na vida familiar. E, por isso, apesar de “ilógicos”, estes sentimentos de perda e alguma desorganização são muito reais e naturais, com uma consequente necessidade de reajustamento. A adição tornou-se uma parte tão central da vida da família que, quando se começa a desvanecer, e a desejada mudança e remissão de alguns sintomas da doença começa a acontecer, algo parece faltar ao seu funcionamento “normal”. Olhe-se, questione-se, procure ajuda para si, enquanto familiar que sofre, enquanto pessoa que merece e pode viver para além das dinâmicas e dramas reais da adição.

Susana Cerqueira  

Porque é que as crianças crescem tanto nas “Férias grandes”?

Tempo, dedicação, disponibilidade, atenção, divertimento, lazer, brincadeira… alguns dos fenómenos chave que se proporcionam no período de férias entre as crianças e quem de mais valor tem para si – a FAMÍLIA.

A família é com quem a criança estabelece uma relação primordial de proximidade e que representa o pilar para a construção de um “Eu” individual e social.

Durante o ano é normal as famílias deixarem-se absorver pelo stress diário das rotinas e pelas exigências do trabalho, esquecendo-se facilmente de dedicar tempo a brincar com os seus filhos. Quando vão de férias, todo este cenário se altera. Deixa de existir o stress do dia a dia, sendo que o stress tem um grande impacto nas hormonas do crescimento; há maior flexibilidade nas regras e rotinas e o foco deixa de estar no trabalho, passando a estar na relação com os outros. As crianças sentem que os pais gostam de estar consigo e que lhes dão uma atenção total. Sentem-se mais livres de horários e aprendem a lidar com o “não ter nada organizado para fazer”!

Nas férias há tempo para brincar, tempo para falar, tempo para rir e tempo para “consolar” quando é preciso. É uma altura do ano em que os momentos positivos e de descontração são maiores do que os negativos, o que contribui para a saúde mental das crianças e ajuda a construir um “Eu” mais sólido, positivo e confiante (Margot Sunderland, “The science behind how holidays make your child happier and smarter” , The Telegraph, 1 fevereiro de 2017).

Através da brincadeira livre, em que os pais têm oportunidade de se envolver totalmente com os filhos, as crianças conseguem criar e explorar um mundo à sua maneira, vencendo os seus medos e fortalecendo a sua relação com os pais. O “Brincar” representa uma excelente maneira para os pais perceberem melhor a perspetiva dos seus filhos e aprenderem a comunicar melhor e de forma mais eficaz com eles (Kenneth R. Ginsburg, The Importance of Play in Promoting Healthy Child Development and Maintaining Strong Parent-Child Bonds, Janeiro 2007).

De facto, muitos pais não têm consciência dos profundos e longínquos benefícios que as férias, que passam com os seus filhos, têm no seu crescimento. Alguns investigadores falam-nos da melhoria na destreza física, na saúde mental das crianças, no crescimento em altura e peso (Timothy Olds, University of South Australia, 2017), assim como no desenvolvimento do cérebro durante as férias grandes em família. Fazer atividades diferentes, ir a sítios onde nunca foram e passarem por novas experiências sociais, cognitivas e sensoriais, contribuem para o desenvolvimento do lobo frontal do cérebro como, por exemplo, o enriquecimento das funções executivas, nomeadamente a autorregulação das emoções, atenção, concentração, planeamento e capacidade de aprendizagem (Margot Sunderland, 1 fevereiro de 2017).

Segundo Sunderland, este desenvolvimento mais rápido do cérebro ocorre porque nas férias se exercitam especificamente dois sistemas envolvidos na área límbica do cérebro (área responsável por várias funções, de que são exemplo emocionais e comportamentais), que ativam neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar, incluindo oxitocina e dopamina.

Jaak Panksepp (2016), neurocientista, explica que no período de férias em família ocorre uma interação dinâmica entre três sistemas emocionais, pertencentes às sete emoções primárias, que proporcionam um sentido de segurança na criança, de tal forma que estimulam zonas do cérebro a ponto de combater estados emocionais mais negativos, como a depressão: o “Seeking System” associado ao entusiasmo; “Care System” associado ao afeto e amor; e “Play System” associado à alegria (The science of emotions: Jaak Panksepp at TEDxRainier). Estes sistemas são como músculos: quanto mais forem usados, mais se tornam parte integrante da personalidade da criança.

Desta forma, ao ativar e fortalecer os “Play and Seeking Systems” do cérebro, nas férias em família, contribui-se para o desenvolvimento e maturação do cérebro na área do lobo frontal, responsável pelo funcionamento cognitivo e inteligência social, que perdurará pela vida inteira. (Panksepp, 2015; Burgdorf et al, 2010, cit in Sunderland).

As férias em família proporcionam, assim, uma maior harmonia, cooperação e entendimento entre os membros familiares. Fortalecem os laços afetivos e as bases para uma maior independência e segurança da criança para enfrentar o mundo à sua volta. Brincar livremente e passar tempo de qualidade com os filhos, ajuda, sem dúvida, as crianças a crescer e a melhorar as suas competências pessoais e sociais, ficando mais bem preparadas para o futuro!

Sofia Seabra Gomes
sofia.seabra.gomes@conforsaumen.com.pt

Conversas informais com Margarida Cordo

Conversas informais com Margarida Cordo Canal - https://youtube.com @conversasinformaiscommarga8883

Sentido de missão ou imperioso apelo ao indevido destaque

Jornal eletrónico “Sete Margens”, Artigo - https://setemargens.com/sentido-de-missao-ou-imperioso-apelo-ao-indevido-destaque/ …

Abusar de nós

Jornal eletrónico “Sete Margens”, Artigo - https://setemargens.com/abusar-de-nos/ Margarida Cordo | 28 Abr 2023 Nos …