Mês: <span>Fevereiro 2023</span>

Prova de fogo

Foto © Petko Ninov
Foto © Petko Ninov

Jornal eletrónico “Sete Margens”,

Artigo - https://setemargens.com/prova-de-fogo/

 | 11 Fev 2023

Prova de fogo não é um título original da minha lavra. É, isso sim, o nome de uma poesia escrita pelo Pedro Machado, a quem me referi em artigo anterior, ao transcrever textos de sua autoria. 

De facto, cheguei a pensar juntar a sua poesia à sua prosa, mas preferi separar para poder falar duas vezes do que é ter e caminhar a partir do sofrimento resultante de problemas de saúde mental, mais ou menos graves, fazendo a sua parte, pedindo e aceitando ajuda nos momentos mais difíceis de viver. 

Transcrevo rigorosamente o original:

Acordo, adormeço,
agito, esmoreço
O relógio não pára
a mente acompanha
O sono cessara
A ânsia ganha

O desejo de vitória
O receio de derrota
Toda a história
numa só prova

Lucidez, tenho de a ter
Desta vez, só posso vencer

À prova estarei
Nesta prova de fogo
Só eu sei
o que está em jogo
De escudo e espada lutarei
Com tudo ou sem nada saírei
À prova estarei,
Nesta prova, nesta prova de fogo

Confio, duvido, assertivo, hesitante
O conforto da cama tão desconfortante
Tão vivo e tão morto
A cada instante
Sou chama, sou gelo
Degradante flagelo
Sou o polo norte e o polo sul
Sem divisão
Em busca da solução

À prova estarei
Nesta prova de fogo
Só eu sei
O que está em jogo
De escudo e espada lutarei
Com tudo ou sem nada saírei
À prova estarei
nesta prova de fogo.

Na verdade, estamos cada vez mais alertados e sensibilizados para a dimensão e abrangência que o sofrimento psíquico vai tendo nos dias de hoje. De acordo com a Organização Mundial de Saúde a depressão é, atualmente, o problema de saúde mais frequente em todo o mundo. Torna-se claro que não é preciso haver fatores desencadeantes para que esta doença se instale. Para além disto, vale a pena sublinhar que ninguém está livre, pois não há condição educacional, cultural socioeconómica ou outra que, de algum modo, funcione como garantia preventiva. 

O que se sente é frequentemente incapacitante e, se atentarmos às partilhas de quem vive ou viveu estes probelmas na primeira pessoa, podemos perceber que não existe uma doença, mas múltiplas formas de a sentir. A falta de energia; a desmotivação; o desespero; a desesperança; a escuridão com que a vida é enfrentada; a alteração de pensamentos, sentimentos e comportamentos; enfim a perturbação que pode chegar a ser avassaladora, na extensão com que deturpa a relação de cada um com o seu presente e com o seu futuro.

Também não podemos ignorar que a depressão e a ansiedade não são as únicas doenças mentais que existem. É muito bom falarmos delas desassombradamente para que não haja constrangimentos nos pedidos de ajuda, única via para a recuperação e, numa grande percentagem, para a cura. No entanto, é também fundamental que ninguém se sinta constrangido por assumir outro problema deste foro, mesmo que seja menos comum ou até mais bizarro.

Todos diferentes, todos iguais. É isto que somos. Ainda assim, no que de nós dependa, vale a pena regular os comportamentos, sobretudo no que diz respeito àqueles que podem ter influência no desencadear ou agravar de certas perturbações. Refiro-me aos consumos de substâncias psicoativas, vulgarmente chamadas drogas. Também para estes é preciso não negar, pedindo ajuda.

Agora que há pouco mais de um mês entrámos num novo ano, porque gostamos e precisamos de simbolizar a vida, aproveitamos para refletir que todos somos poucos para combater este flagelo (a doença mental) que, sem mostrar uma ferida aberta, tanto pode esmagar uma existência, quer por falta de qualidade do dia-a-dia, quer por, algumas vezes, conduzir a comportamentos limite.

Agradeço ao Pedro Machado a disponibilidade e a coragm para, com uma das suas competências, que é a escrita, partilhar o que tem sido a sua experiência e, em simultâneo, a dor, a esperança e a resiliência que, dela resultam.

Já não somos livres?

“Para quê tantos estudam tanto e ensaiam tanto, chegando a preparar-se durante meses para fazerem um papel? Para que servem tantos castings para recrutar pessoas para fazerem de conta que são algo que outros não conseguem simular?” Foto: Teatro em Cochim, Índia. © Miguel Veiga.
“Para quê tantos estudam tanto e ensaiam tanto, chegando a preparar-se durante meses para fazerem um papel? Para que servem tantos castings para recrutar pessoas para fazerem de conta que são algo que outros não conseguem simular?” Foto: Teatro em Cochim, Índia. © Miguel Veiga.

Jornal eletrónico “Sete Margens”,

Artigo - https://setemargens.com/ja-nao-somos-livres/

 | 3 Fev 2023

O título deste pequeno artigo é uma pergunta que me coloco muitas vezes a propósito de variados acontecimentos. Contrariamente ao que é habitual, este ano decidimos fazer uma viagem grande em Janeiro e, por isso, só à distância me fui apercebendo de alguns factos, se assim se pode dizer, nacionais, honra seja feita às novas tecnologias que nos enviam jornais e revistas em tempo útil, porque escolho não ter redes sociais. De facto, mesmo do outro lado do mundo, estamos tão perto no nosso imaginário, que até parece que continuamos a andar pelo nosso país e, neste caso, pela nossa capital.

Eis senão quando me apercebi de que um ator já não pode ser ator. Agora parece que o desempenho de papel tem de ser a vivência da própria pele. Se eu precisar de representar um amputado de membro inferior, tenho de cortar uma perna; se eu representar uma pessoa com psicose, tenho de ser psicótica; se eu representar uma pessoa cancerosa, tenho de ter um cancro. Será assim? Mas acima de tudo, vale a pena questionar o que é ser ator. O que é, mesmo historicamente, o teatro.

Para quê tantos estudam tanto e ensaiam tanto, chegando a preparar-se durante meses para fazerem um papel? Para que servem tantos castings para recrutar pessoas para fazerem de conta que são algo que outros não conseguem simular? Que mundo é este, afinal? E quem são estas outras pessoas que sucumbem a manifestações de quem apenas quer provocar conflitos, destacar-se pelas piores razões e impor uma linha ideológica sem lógica, que só vinga porque se enquadra muito provavelmente num lobby poderoso que já perdeu as estribeiras e não sabe que mais há de fazer para se evidenciar.

Na verdade, temos de nos respeitar uns aos outros na condição de cada um. Sejamos o que formos, precisamos de procurar viver com a dignidade de quem se aceita e de quem aceita todos, desde que por esses (todos) seja também aceite. O mundo em que vivemos e a qualidade de estar nele, depende dessas nossas atitudes e dessa nossa consistência de ser. É incongruente querer preparar um mundo melhor e fazer tudo para que o planeta azul se transforme num inóspito deserto de humanidade; é insuportável ter de enfrentar a injustiça e ficar impotente perante ela, sem poder fazer o que quer que seja para a evitar; é, no mínimo, indigno conviver com pessoas que se prestam a isto porque, se não for isto, nunca terão palco nem plateia por mérito próprio…

Não conheço nenhum dos envolvidos, nem os agressores nem as “vítimas”, mas sinto-me na obrigação de fazer pensar quem estiver de olhos fechados e de alertar para os precedentes que se abrem contra a liberdade de cada um, esse bem tão precioso e por quem tantos têm dado a vida numa luta absolutamente extraordinária e difícil, que tantas vidas em tantos cantos do mundo já custou.

Basta! Temos excessos – de cobardias; de indignidades; de incoerências… Queremos apenas liberdade, isso que é um dos enormes tesouros do existir e que não se cansam de nos tentar “roubar”, das mais variadas formas e através dos métodos mais “criativodecadentes”.

Conversas informais com Margarida Cordo

Conversas informais com Margarida Cordo Canal - https://youtube.com @conversasinformaiscommarga8883

Sentido de missão ou imperioso apelo ao indevido destaque

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Abusar de nós

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