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Porque é que as crianças crescem tanto nas “Férias grandes”?

Tempo, dedicação, disponibilidade, atenção, divertimento, lazer, brincadeira… alguns dos fenómenos chave que se proporcionam no período de férias entre as crianças e quem de mais valor tem para si – a FAMÍLIA.

A família é com quem a criança estabelece uma relação primordial de proximidade e que representa o pilar para a construção de um “Eu” individual e social.

Durante o ano é normal as famílias deixarem-se absorver pelo stress diário das rotinas e pelas exigências do trabalho, esquecendo-se facilmente de dedicar tempo a brincar com os seus filhos. Quando vão de férias, todo este cenário se altera. Deixa de existir o stress do dia a dia, sendo que o stress tem um grande impacto nas hormonas do crescimento; há maior flexibilidade nas regras e rotinas e o foco deixa de estar no trabalho, passando a estar na relação com os outros. As crianças sentem que os pais gostam de estar consigo e que lhes dão uma atenção total. Sentem-se mais livres de horários e aprendem a lidar com o “não ter nada organizado para fazer”!

Nas férias há tempo para brincar, tempo para falar, tempo para rir e tempo para “consolar” quando é preciso. É uma altura do ano em que os momentos positivos e de descontração são maiores do que os negativos, o que contribui para a saúde mental das crianças e ajuda a construir um “Eu” mais sólido, positivo e confiante (Margot Sunderland, “The science behind how holidays make your child happier and smarter” , The Telegraph, 1 fevereiro de 2017).

Através da brincadeira livre, em que os pais têm oportunidade de se envolver totalmente com os filhos, as crianças conseguem criar e explorar um mundo à sua maneira, vencendo os seus medos e fortalecendo a sua relação com os pais. O “Brincar” representa uma excelente maneira para os pais perceberem melhor a perspetiva dos seus filhos e aprenderem a comunicar melhor e de forma mais eficaz com eles (Kenneth R. Ginsburg, The Importance of Play in Promoting Healthy Child Development and Maintaining Strong Parent-Child Bonds, Janeiro 2007).

De facto, muitos pais não têm consciência dos profundos e longínquos benefícios que as férias, que passam com os seus filhos, têm no seu crescimento. Alguns investigadores falam-nos da melhoria na destreza física, na saúde mental das crianças, no crescimento em altura e peso (Timothy Olds, University of South Australia, 2017), assim como no desenvolvimento do cérebro durante as férias grandes em família. Fazer atividades diferentes, ir a sítios onde nunca foram e passarem por novas experiências sociais, cognitivas e sensoriais, contribuem para o desenvolvimento do lobo frontal do cérebro como, por exemplo, o enriquecimento das funções executivas, nomeadamente a autorregulação das emoções, atenção, concentração, planeamento e capacidade de aprendizagem (Margot Sunderland, 1 fevereiro de 2017).

Segundo Sunderland, este desenvolvimento mais rápido do cérebro ocorre porque nas férias se exercitam especificamente dois sistemas envolvidos na área límbica do cérebro (área responsável por várias funções, de que são exemplo emocionais e comportamentais), que ativam neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar, incluindo oxitocina e dopamina.

Jaak Panksepp (2016), neurocientista, explica que no período de férias em família ocorre uma interação dinâmica entre três sistemas emocionais, pertencentes às sete emoções primárias, que proporcionam um sentido de segurança na criança, de tal forma que estimulam zonas do cérebro a ponto de combater estados emocionais mais negativos, como a depressão: o “Seeking System” associado ao entusiasmo; “Care System” associado ao afeto e amor; e “Play System” associado à alegria (The science of emotions: Jaak Panksepp at TEDxRainier). Estes sistemas são como músculos: quanto mais forem usados, mais se tornam parte integrante da personalidade da criança.

Desta forma, ao ativar e fortalecer os “Play and Seeking Systems” do cérebro, nas férias em família, contribui-se para o desenvolvimento e maturação do cérebro na área do lobo frontal, responsável pelo funcionamento cognitivo e inteligência social, que perdurará pela vida inteira. (Panksepp, 2015; Burgdorf et al, 2010, cit in Sunderland).

As férias em família proporcionam, assim, uma maior harmonia, cooperação e entendimento entre os membros familiares. Fortalecem os laços afetivos e as bases para uma maior independência e segurança da criança para enfrentar o mundo à sua volta. Brincar livremente e passar tempo de qualidade com os filhos, ajuda, sem dúvida, as crianças a crescer e a melhorar as suas competências pessoais e sociais, ficando mais bem preparadas para o futuro!

Sofia Seabra Gomes
sofia.seabra.gomes@conforsaumen.com.pt

Disciplina Positiva

Um adulto não pode estar à espera que a criança saiba como se comportar. Deve, em vez disso, através do respeito e do afeto, ajuda-la a resolver os problemas com base nos princípios da disciplina positiva, que irão levar à construção de uma relação fundada na confiança mútua.

 

A Disciplina Positiva baseia-se nos seguintes princípios:

 

  • RESPEITO MUTUO: Não se pode estar à espera que as crianças mostrem respeito sem os pais o demonstrarem primeiro. Quando se consegue ser firme e afetivo ao mesmo tempo, compreender e respeitar as diferenças e a individualidade de cada criança, mostra-se respeito pela sua dignidade e permite-se que esta se torne uma melhor pessoa.

 

  • PERCEBER A CRENÇA POR DETRÁS DO COMPORTAMENTO: todo o comportamento humano tem um propósito. Conseguiremos alterar o comportamento de uma criança de forma muito mais eficaz se percebermos o que o motivou. Aprender a reconhecer e a lidar com os sentimentos da criança é um passo fundamental para compreender o seu comportamento e as suas crenças sobre o mundo.

 

  • COMUNICAÇÃO EFICAZ: As crianças ouvem melhor quando são levadas a pensar e a participar em vez de apenas lhes dizerem o que pensar e o que fazer. As crianças não ouvem quando os adultos gritam ou berram consigo. É importante utilizar o sentido de humor, ser-se sincero no que se sente de forma afetiva e firme, ter atenção ao tom de voz e à postura adotada e utilizar uma escuta ativa, para ir ao encontro das necessidades da criança ou da situação.

 

  • COMPREENDER O MUNDO DA CRIANÇA: é importante perceber que o desenvolvimento passa por várias fases e que existem muitas variáveis em jogo, como por exemplo ter em conta o temperamento da criança ou as suas necessidades. Uma criança apresenta, desde cedo, quatro necessidades básicas: 1. Sentido de Pertença – As crianças precisam de saber que são aceites incondicionalmente por serem quem são, em vez de apenas pelo seu comportamento ou pelo que conseguem fazer. As crianças que não sentem que pertencem a algum lado, nem que são significativas para alguém, tendencialmente portam-se mal por tentarem procurar o seu sentido de pertença e significado através dos disparates e das asneiras. 2. Perceção de Competência – As crianças não aprendem a tomar decisões nem a confiar nas suas capacidades, se os pais não lhes dão espaço para sentirem e experienciarem que são capazes. As palavras por si só não são suficientes para construir um sentido de competência e confiança. 3. Poder e Autonomia – As crianças que se envolvem nas decisões vivenciam um sentimento saudável de poder e de autonomia. Em vez de se dizer às crianças o que têm de fazer, podem encontrar-se formas de as envolver nas decisões e perceber o que pensam e percepcionam. O adulto pode, ainda, direcionar de forma positiva o poder da criança para que esta consiga resolver problemas, respeitar e cooperar com os outros e adquirir competências várias. 4. Competências Sociais e de vida diária – A verdadeira autoestima não provém apenas de se ser amado e elogiado, nem de se encher de doces e presentes, mas sim de se sentir que se tem competências, tais como: saber dar-se com as outras crianças e adultos; saber comer e vestir-se de forma autónoma e aprender a ter responsabilidade.

 

  • DISCIPLINA QUE ENSINA: Uma disciplina eficaz ensina competências sociais e de vida diária sem ser permissiva ou punitiva. A maioria dos pais luta ocasionalmente com o temperamento e o comportamento dos seus filhos, especialmente quando perde a paciência, focando-se no próprio ego ou ficando preso na reação ao comportamento em vez de agir refletidamente. É humano ter dias com mais ou menos paciência. Tomar consciência e compreender não significa tornar-se um pai perfeito. O que importa é ajudar a criança a esforçar-se para melhorar e não para atingir a perfeição, que é utópica.

 

  • FOCAR NAS SOLUÇÕES EM VEZ DE CASTIGAR: Julgar não resolve os problemas. À medida que a criança cresce vão-se conseguindo encontrar, em conjunto, soluções para os desafios que vão surgindo, tais como: criar as rotinas juntos, dar-lhe a possibilidade de fazer escolhas (limitadas pelo adulto), providenciar oportunidades para a criança ajudar e recorrer a um cantinho “calm down”, como uma espécie de “time-out” positivo, que representa uma boa maneira de ajudar as crianças que precisam de se acalmar.

 

  • ENCORAJAMENTO: Encorajar leva ao esforço e à vontade de melhorar. Ajuda a criança a desenvolver a coragem para aprender e crescer e a coragem para lidar com os erros, sem sentir vergonha nem culpa. Os erros são uma grande oportunidade para aprender e crescer. Os pais devem estar disponíveis para abraçar, perdoar e pensar numa melhor forma de os resolver, e poderem crescer juntos. Por outro lado, encorajar é diferente de elogiar. O elogio leva à dependência da aprovação do outro, enquanto o encorajamento reconhece o esforço e a responsabilidade; leva a criança a querer melhorar por si própria (e não a agradar ao outro), a pensar e a autoavaliar-se.

 

  • AS CRIANÇAS FAZEM MELHOR QUANDO SE SENTEM MELHOR: Nunca se deve humilhar uma criança nem faze-la sentir-se envergonhada. As crianças estarão mais motivadas para colaborar e aprender novas competências, quando lhes é oferecido afeto e respeito, quando se sentem encorajadas, ligadas e amadas.

 

As crianças não ouvem quando se sentem ameaçadas, magoadas ou zangadas. Quando grita, berra ou bate está a desrespeitar a criança, levando-a à dúvida, à vergonha, à culpa ou à rebelião, agora e no futuro. Os castigos e a disciplina pela negativa geram pior comportamento nas crianças. O desafio da parentalidade está em encontrar o equilíbrio, por um lado, entre o cuidar, proteger e guiar e, por outro, permitir que a criança explore, experimente e se torne uma pessoa única e independente. Providenciar o balanço entre a orientação e a independência requer que o papel dos pais, na vida da criança, se adapte enquanto ela cresce. É fundamental que os adultos percebam os efeitos a longo prazo da sua ação com as crianças e como isso pode fazer toda a diferença no seu percurso de vida e no bem-estar familiar, evitando chegar à adolescência do filho a desejar que as coisas tivessem sido diferentes…

 

Reflexão baseada no livro “Positive Discipline for Preschoolers” de Jane Nelsen, Cheryl Erwin e Roslyn Ann Duffy, New York, 2007.

 

Sofia Seabra Gomes- sofia.seabra.gomes@conforsaumen.com.pt

 

As crianças do final do ano

Devo ou não esperar que o meu filho complete os 6 anos de idade para entrar no 1º ano de escolaridade?

A entrada no 1º ano de escolaridade é uma fase de transição importante na vida de uma criança. Para que esta a consiga vivenciar de uma forma tranquila e saiba lidar com os novos desafios que lhe são exigidos, é muito importante que tenha desenvolvido, previamente e dentro do expectável para a idade, algumas competências fundamentais, tais como: capacidade de resiliência, de persistência, de lidar com o insucesso, de lidar com a frustração, de se relacionar de forma adequada com os pares, de focar a sua atenção nas tarefas por períodos de tempo mais longos, de saber escutar e falar na sua vez e de saber lidar com as suas emoções. Todas estas capacidades permitem que a criança se disponibilize emocionalmente para a aprendizagem conseguindo apresentar, posteriormente, um melhor empenho, um melhor ritmo de trabalho e um melhor desempenho académico, o que contribui para o desenvolvimento da autoestima e autoconfiança da criança cruciais para o seu crescimento.

Brincar no Jardim de Infância representa, assim, um tempo fulcral para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. O investigador David Whitebread da Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge (in “Schoolstarting age: theevidence”, 24 de setembro de 2013), refere que estudos de diferentes áreas como a da antropologia, da psicologia, das neurociências e da educação demonstram que quanto mais uma criança estender o tempo de brincadeira antes de entrar na escola formal, mais probabilidade tem de se tornar num forte aprendiz conduzindo a que tenha resultados superiores a nível académico e motivacional, bem como a um maior bem estar emocional. Quando brinca a criança motiva-se mais por aprender, desenvolve a sua capacidade simbólica e aprende a autorregular-se emocionalmente de forma muito mais profunda do que quando recebe instrução direta dos conteúdos académicos.

O Ministério de educação em Portugal define a entrada obrigatória no 1º ano de escolaridade para as crianças que completam os 6 anos de idade até dia 15 de setembro. As crianças que completam os 6 anos entre 16 de setembro e 31 de dezembro inscrevem-se consoante a decisão dos encarregados de educação, estando dependentes do número de vagas existentes nos respetivos estabelecimentos de ensino.

Os pais muitas vezes sentem que esperar que o seu filho complete os 6 anos de idade para entrar no 1º ano significa perder um ano. No entanto, hoje em dia, sabe-se que não se trata de perder mas sim de ganhar um ano. É comum as crianças que entram para o 1º ano com 5 anos de idade fazerem diferença de quase um ano com outras crianças da mesma turma, acabando por se sentirem, muitas vezes, mais inseguras, ansiosas e desmotivadas para aprender pelas diferenças que sentem em termos de desenvolvimento. São crianças que passam, frequentemente, o seu percurso académico em esforço e que revelam grandes dificuldades em corresponder às exigências que lhes são feitas, principalmente nas mudanças de ciclos, acabando, por vezes, por ter de repetir algum ano de escolaridade. Inevitavelmente a autoestima e autoconfiança destas crianças é muitas vezes prejudicada por irem interiorizando o sentimento diário de incapacidade e inferioridade por não conseguirem corresponder ao que lhes é pedido, por não compreenderem à primeira a matéria, por terem de lidar muitas vezes com o insucesso, por não conseguirem estar atentas durante o mesmo tempo que a maioria dos colegas ou por, consequentemente, ficarem mais irrequietas e distraídas em sala de aula. Estudos realizados no Canadá e nos EUA (Anne Harding in Health.com, 2012) revelam como as crianças mais novas da classe, as do final do ano, têm mais probabilidade de serem diagnosticadas com perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA) e medicadas para o seu tratamento, quando na verdade muitas dessas crianças são apenas imaturas.

Torna-se, assim, crucial perceber a relevância de iniciar de forma positiva o percurso académico das crianças do final do ano, de forma a promover, desde cedo, o seu bem estar emocional e contribuir para que consigam ser crianças confiantes, autónomas e felizes.

Diversos estudos têm sido realizados para fundamentar os benefícios de uma criança entrar no 1º ano de escolaridade só após completar os 6 anos de idade, como o publicado pela NationalBureauofEconomicResearch(Thomas Dee, Hans HenrikSieverstenin “New studydiscoversthebest age for startingschool”, HeidiVanDort, 10 de outubro de 2015) realizado na Dinamarca, que demonstrou que prolongar o tempo no Jardim de Infância e ingressar no 1º ano com 7 anos de idade providencia benefícios mentais para a criança e reduz a ocorrência de desatenção e hiperatividade. Os autores defendem que as crianças que entram mais tarde no ensino formal conseguem autorregular-se melhor, conseguem controlar melhor os seus impulsos e modificar o seu comportamento quando procuram atingir objetivos, resultando, assim, num melhor desempenho académico.

Nem sempre é fácil para um pai aceitar que optar por esperar que o seu filho complete os 6 anos de idade, antes de entrar no 1ºano, é mais vantajoso para o seu crescimento emocional e cognitivo. Assim, para evitar que os pais se deparem com este dilema apenas no final do pré-escolar, apesar das consequências emocionais da criança serem ultrapassáveis, porque não tomar conhecimento prévio dos benefícios que existem para a criança e decidir logo, desde cedo, inscrever o filho na sala correta da Creche ou do Jardim de Infância?

 

Sofia Seabra Gomes- sofia.seabra.gomes@conforsaumen.com.pt

Conversas informais com Margarida Cordo

Conversas informais com Margarida Cordo Canal - https://youtube.com @conversasinformaiscommarga8883

Sentido de missão ou imperioso apelo ao indevido destaque

Jornal eletrónico “Sete Margens”, Artigo - https://setemargens.com/sentido-de-missao-ou-imperioso-apelo-ao-indevido-destaque/ …

Abusar de nós

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