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Melhore a sua qualidade de vida

Terapia Familiar? É que nem pensar!

A Rita e a Sílvia conseguiram ir almoçar, depois das inúmeras tentativas, no meio do seu dia a dia tão atarefado.

“Não imaginas! Bem que nos avisam que esta fase dos filhos adolescentes é tramada! Achamos sempre que os problemas acontecem é com os filhos dos outros…” – desabafa a Rita.

A Sílvia, alarmada, pergunta: “Mas o que se passa? Com qual deles?”

“É a minha filha Maria, de 18 anos, desde há uns meses que anda com uns comportamentos muito estranhos: desconfiada, tudo o que dizemos parece que é para a atacar, reage com imensa agressividade, ora está aos gritos ora está enfiada no quarto e ninguém pode entrar… Não sei mais o que fazer!”

” Mas o que achas que aconteceu?”

” Isto começou com o fim de uma amizade muito intensa que a Maria tinha. Esta amiga dela, começou a dar-se com outro grupo de amigos e a Maria parece não ter superado esse afastamento. Queres saber que começou a perseguir a outra miúda, a achar que a miúda e os outros amigos andavam a dizer coisas dela…. Olha parece aquelas coisas de filme!”

” E já pediste ajuda? Olha, há um ano e tal, o meu irmão e a minha cunhada que também estavam com uns problemas com o filho do meio, disseram-me que tinham ido a uma consulta de terapia familiar e que tinha sido bom para eles. Já pensaste nisso?”

“És maluca?! Expor a família inteira? Dá-me um bocado a sensação de estar a lavar a roupa suja em público, não achas?”

“Sinceramente, compreendo-te porque eu também pensava assim. Quando o meu irmão e a minha cunhada me falaram disso, eu também fiquei desconfiada. Mas depois fui assistindo ao percurso deles e noto diferenças! O meu sobrinho que é um miúdo muito rebelde, na altura andava a faltar à escola, sempre com umas companhias esquisitas e com um péssimo feitio em casa. Os pais estavam desesperados!”

A Rita, ainda cética, questiona a amiga: “Então e que diferenças notas? Não me digas que ele agora é o melhor aluno da turma?!”

“Oh Rita, claro que as coisas não mudam de um momento para o outro, mas a principal diferença que noto é na relação entre todos. Nessa altura, ias lá a casa e era berros o tempo inteiro, porque o meu irmão e a minha cunhada não suportavam a insolência e a aparente indiferença dele! A verdade é que ele voltou a ir às aulas, conseguiu recuperar as notas e passar de ano, e vejo-o francamente melhor, mais alegre, mais encontrado, …”

“Dá-me lá o contacto da tua cunhada para perceber melhor o que é essa tal coisa da Terapia Familiar…”

Tal como na família da Rita, do Luís, da Maria, assim acontece nas nossas famílias. Há padrões de comunicação que se vão estabelecendo e dominando as nossas interações, muito úteis em determinadas fases do desenvolvimento, mas que têm o seu “prazo de validade”. À medida que a família vai mudando e as fases do ciclo de vida se vão alterando, são necessárias novas ferramentas para os novos desafios que vão surgindo.

A Terapia Familiar é um processo de acompanhamento da família, em etapas que a família sente que as ferramentas que tem, não são suficientes ou adequadas, para lidar com a exigência dos desafios que a vida lhe apresenta. E o Terapeuta Familiar é como um treinador da equipa que, fazendo parte desta, observa de fora e devolve o que vê, ouve, sente e pensa. Com estes novos inputs, família e terapeuta juntos, podem experimentar novas técnicas e táticas, mais adaptadas ao “jogo” que as circunstâncias apresentam à família. E nesta dinâmica conjunta, a mudança pode acontecer…

Joana Tinoco de Faria

joana.t.faria@conforsaumen.com.pt

Adolescência: Para onde é que eu Vou?

Crescer implica perder a tranquilidade, as certezas, a segurança, o sonho e a alegria de ser criança, para passar a viver na incerteza, na procura de si próprio, sonhando com um mundo adulto que, cada vez, parece mais distante e menos aliciante. A adolescência é assim um período em que o desenvolvimento e a mudança são uma constante no processo de independência travada pelo adolescente e que só termina quando esta é atingida. Há sempre uma certa tensão nesta conquista, o adolescente quer ser autónomo, ao mesmo tempo que os pais ainda não se deram conta que aquela criança está a pedir para entrar no seu mundo. Na maior parte das vezes este processo faz-se sem rutura com os pais. No entanto não deixam de existir movimentos sucessivos de afastamento e reaproximação, em que (desejavelmente) o afeto é mantido e a confiança reforçada. Sabe-se pois, que os laços de união fortes favorecem uma separação bem conseguida, contudo quando em criança a sua vida foi pontuada pela falta deste amor maternal/paternal ou quando a sua qualidade é discutível, pode surgir a psicopatologia.

A PROBLEMÁTICA DA ADOLESCÊNCIA

Todos temos conhecimento que a adolescência é uma fase do desenvolvimento caracterizada por bastante agitação, por intensos conflitos internos e por diferentes transformações, que conduzem frequentemente à tradução de uma grande labilidade emocional (instabilidade de humor) e relacional. É, realmente, o surgir das irrupções pulsionais que se intensificam, sobretudo pulsões sexuais e agressivas (organização psíquica dos instintos), que conduz o adolescente a um forte desejo de independência e afirmação pessoal face aos representantes edipianos. No entanto, barreiras reais da sua vida, como a dependência económica e até afetiva, obstaculizam este novo modo de sentir. Não sendo capaz de fazer frente a estes novos desafios e querendo de forma imediatista (característica da adolescência) ver realizados os seus desejos, o adolescente embarca em movimentos de contestação, revolta e oposição acompanhados por um aumento do potencial agressivo, muitas vezes traduzido em discussões acesas, de carácter filosófico, religioso, incitação provocadora, etc.

De facto, em pouco tempo, o adolescente encontra-se diante de sucessivos e simultâneos trabalhos de luto. Surgem alterações corporais que se vão manifestando e às quais tem de se adaptar, fazendo um reconhecimento do seu corpo e refazendo uma autoimagem corporal. À vontade de autonomia e afirmação juntam-se a procura da sua identidade que comporta confrontos, deflexão da agressividade e ansiedade. A adolescência é sem dúvida um emaranhado de afetos e emoções que invadem violentamente o ideal infantil, sem sequer se ter tempo para se preparar, pois os desafios multiplicam-se, quase diríamos, descontroladamente. Também é um período de sonhos, projetos e fantasia. Uma procura de novas conquistas, uma excitação pelo novo, uma oportunidade à criatividade.

Anterior a este período há um passado vivido, há uma passagem da criança à idade adulta, da dependência à autonomia, que com alguma resenha poderá envolver o momento da chamada “crise da adolescência”, com diferentes fases no processo psicológico.

MUDANÇAS FÍSICAS

A mudança começa essencialmente pelo exterior, visto que em pouco tempo, a criança vê o seu corpo alterado. Há uma transformação fisiológica da altura, do peso e das secreções hormonais sexuais. A puberdade apresenta-se como o palco das profundas modificações fisiológicas que têm importantes repercussões psicológicas tanto ao nível da realidade concreta quanto ao nível imaginário e simbólico.

A metáfora de A. Haim, citado por Braconnier e Marcelli (1989), representa bem este primeiro desafio: “O adolescente é um pouco como um cego que se move num meio cujas dimensões mudaram” (op. cit. p., 33). O adolescente observa-se frequentemente numa tentativa de se reconhecer no seu novo corpo, levanta dúvidas existenciais sobre si próprio e sobre o que os outros pensam de si, principalmente o grupo de pares e o parceiro que é investido como objeto de amor. Também podem surgir receios do tipo dismorfofóbico (adulteração da imagem corporal).

O aparecimento deste questionamento sobre o corpo e a busca de uma identidade própria, vem acompanhada de angústia que vai reativar as primeiras relações de objeto (relação do individuo com o mundo exterior, a partir de referencias ao mundo interno). São as relações de objeto precoces e a sua eventual satisfação que são aqui evocadas. Os fracassos, as carências graves, as faltas nestas relações, mas também as relações demasiado simbióticas representam outras tantas ameaças reatualizadas. Pelo contrário, a presença de boas relações de objeto precoces, de uma imagem interna de relação tranquilizadora e pacificadora, desenvolve no adolescente uma capacidade de sonho, de diálogos internos e, principalmente, uma certa tolerância ao sofrimento e à conflitualidade, que o novo corpo origina.

O adolescente sente necessidade de vigiar o corpo, de o controlar. Por isso está constantemente a ver-se ao espelho, que é um verdadeiro trabalho de reconhecimento da imagem de si. Este reconhecimento também é resultado das trocas mútuas entre a sua imagem e a dos outros.

MUDANÇAS PSICOLÓGICAS

Com a adolescência surge por um lado, a inevitável perda dos “objetos infantis”, perda do refúgio materno/paterno e um progressivo afastamento dos imagos parentais, e por outro, a descoberta de objetos de amor e ódio fora da família. O luto pelos objetos do passado é inevitável. A escolha de novos objetos de amor exteriores à família, pressupondo já a capacidade egóica de funcionar autonomamente dos pais, estaria portanto na estreita dependência do trabalho intrapsíquico dos vários lutos.

A já referida emergência pubertária vai afetar a relação que o adolescente tem consigo mas também a relação que estabelece com os pais. A “inocência” das relações que tinha com estes vai ser posta em causa. O adolescente necessita de desidealizar fantasmaticamente os pais. Ainda Braconnier e Marcelli (2000, p. 65), insistem em lembrar que “se um adolescente não pode tolerar estes momentos de sofrimento, em particular quando estes o reenviam para períodos de sofrimento da primeira infância (separações múltiplas, carência afetiva precoce…), corre então o risco de eliminar o mal-estar através de comportamentos do tipo de passagem ao ato e projeção agressiva. Se, em contrapartida, o adolescente tolera estes momentos de sofrimento, poderá integrá-los e ultrapassá-los nos comportamentos de reparação, de sublimação ou de criação”. Esta alteração das relações pais-filhos é difícil para ambos, visto que os pais também terão de alterar o tipo de relacionamento que até aí estabeleciam com os seus filhos. Torna-se então necessário aos adolescentes abandonar as fixações afetivas na família original, sem o que não será possível resolver o problema do amor na adolescência.

MUDANÇAS SOCIAIS

Tivemos oportunidade de ver que os pais já não podem fornecer ao adolescente os modelos, as satisfações, os prazeres que até então tinham podido proporcionar ao seu filho. O adolescente começa então a mostrar a necessidade de se afastar dos pais, mesmo quando à partida, e acima de tudo, se trata de uma distância ao nível da esfera simbólica. De facto, a tarefa da desidealização dos pais da infância, é considerada pela maioria dos autores como a parte mais difícil da separação adolescente. Este movimento psicológico de deceção que o adolescente sente relativamente aos pais, vai conduzir a esta necessidade de procurar fora do círculo familiar novas fontes de satisfação e de se sentirem amados e admirados por outros que não apenas os seus familiares. O sentimento de pertença a um grupo com quem se identificar e o sentimento de segurança e proximidade na relação de amizade, são complementos fundamentais para o desenvolvimento emocional saudável e consequente sentimento de bem-estar psicológico.

O “papel dos deslocamentos de interesses é essencial”, como afirmam Braconnier e Marcelli (2000, p. 66). “Eles permitem, de facto, estabelecer laços de socialização diversificados com os outros adultos mas também com os colegas. Permitem também investimentos sublimados (transformação de sentimentos inferiores ou instintos básicos em sentimentos ou instintos superiores): desportivos, culturais, artísticos, etc. O adolescente vai procurar novas experiências, novos saberes, que lhe vão permitir sentir, cada vez mais, prazer fora da relação familiar.

 

– Braconnier, A. & Marcelli, D. (1989). Psicopatologia do Adolescente. São Paulo: Ed. Masson.
– Braconnier, A. & Marcelli, D. (2000). As mil faces da Adolescência. Lisboa: Ed. Climepsi.

Sónia Garrucho

sonia.garrucho@conforsaumen.com.pt

Disciplina Positiva

Um adulto não pode estar à espera que a criança saiba como se comportar. Deve, em vez disso, através do respeito e do afeto, ajuda-la a resolver os problemas com base nos princípios da disciplina positiva, que irão levar à construção de uma relação fundada na confiança mútua.

 

A Disciplina Positiva baseia-se nos seguintes princípios:

 

  • RESPEITO MUTUO: Não se pode estar à espera que as crianças mostrem respeito sem os pais o demonstrarem primeiro. Quando se consegue ser firme e afetivo ao mesmo tempo, compreender e respeitar as diferenças e a individualidade de cada criança, mostra-se respeito pela sua dignidade e permite-se que esta se torne uma melhor pessoa.

 

  • PERCEBER A CRENÇA POR DETRÁS DO COMPORTAMENTO: todo o comportamento humano tem um propósito. Conseguiremos alterar o comportamento de uma criança de forma muito mais eficaz se percebermos o que o motivou. Aprender a reconhecer e a lidar com os sentimentos da criança é um passo fundamental para compreender o seu comportamento e as suas crenças sobre o mundo.

 

  • COMUNICAÇÃO EFICAZ: As crianças ouvem melhor quando são levadas a pensar e a participar em vez de apenas lhes dizerem o que pensar e o que fazer. As crianças não ouvem quando os adultos gritam ou berram consigo. É importante utilizar o sentido de humor, ser-se sincero no que se sente de forma afetiva e firme, ter atenção ao tom de voz e à postura adotada e utilizar uma escuta ativa, para ir ao encontro das necessidades da criança ou da situação.

 

  • COMPREENDER O MUNDO DA CRIANÇA: é importante perceber que o desenvolvimento passa por várias fases e que existem muitas variáveis em jogo, como por exemplo ter em conta o temperamento da criança ou as suas necessidades. Uma criança apresenta, desde cedo, quatro necessidades básicas: 1. Sentido de Pertença – As crianças precisam de saber que são aceites incondicionalmente por serem quem são, em vez de apenas pelo seu comportamento ou pelo que conseguem fazer. As crianças que não sentem que pertencem a algum lado, nem que são significativas para alguém, tendencialmente portam-se mal por tentarem procurar o seu sentido de pertença e significado através dos disparates e das asneiras. 2. Perceção de Competência – As crianças não aprendem a tomar decisões nem a confiar nas suas capacidades, se os pais não lhes dão espaço para sentirem e experienciarem que são capazes. As palavras por si só não são suficientes para construir um sentido de competência e confiança. 3. Poder e Autonomia – As crianças que se envolvem nas decisões vivenciam um sentimento saudável de poder e de autonomia. Em vez de se dizer às crianças o que têm de fazer, podem encontrar-se formas de as envolver nas decisões e perceber o que pensam e percepcionam. O adulto pode, ainda, direcionar de forma positiva o poder da criança para que esta consiga resolver problemas, respeitar e cooperar com os outros e adquirir competências várias. 4. Competências Sociais e de vida diária – A verdadeira autoestima não provém apenas de se ser amado e elogiado, nem de se encher de doces e presentes, mas sim de se sentir que se tem competências, tais como: saber dar-se com as outras crianças e adultos; saber comer e vestir-se de forma autónoma e aprender a ter responsabilidade.

 

  • DISCIPLINA QUE ENSINA: Uma disciplina eficaz ensina competências sociais e de vida diária sem ser permissiva ou punitiva. A maioria dos pais luta ocasionalmente com o temperamento e o comportamento dos seus filhos, especialmente quando perde a paciência, focando-se no próprio ego ou ficando preso na reação ao comportamento em vez de agir refletidamente. É humano ter dias com mais ou menos paciência. Tomar consciência e compreender não significa tornar-se um pai perfeito. O que importa é ajudar a criança a esforçar-se para melhorar e não para atingir a perfeição, que é utópica.

 

  • FOCAR NAS SOLUÇÕES EM VEZ DE CASTIGAR: Julgar não resolve os problemas. À medida que a criança cresce vão-se conseguindo encontrar, em conjunto, soluções para os desafios que vão surgindo, tais como: criar as rotinas juntos, dar-lhe a possibilidade de fazer escolhas (limitadas pelo adulto), providenciar oportunidades para a criança ajudar e recorrer a um cantinho “calm down”, como uma espécie de “time-out” positivo, que representa uma boa maneira de ajudar as crianças que precisam de se acalmar.

 

  • ENCORAJAMENTO: Encorajar leva ao esforço e à vontade de melhorar. Ajuda a criança a desenvolver a coragem para aprender e crescer e a coragem para lidar com os erros, sem sentir vergonha nem culpa. Os erros são uma grande oportunidade para aprender e crescer. Os pais devem estar disponíveis para abraçar, perdoar e pensar numa melhor forma de os resolver, e poderem crescer juntos. Por outro lado, encorajar é diferente de elogiar. O elogio leva à dependência da aprovação do outro, enquanto o encorajamento reconhece o esforço e a responsabilidade; leva a criança a querer melhorar por si própria (e não a agradar ao outro), a pensar e a autoavaliar-se.

 

  • AS CRIANÇAS FAZEM MELHOR QUANDO SE SENTEM MELHOR: Nunca se deve humilhar uma criança nem faze-la sentir-se envergonhada. As crianças estarão mais motivadas para colaborar e aprender novas competências, quando lhes é oferecido afeto e respeito, quando se sentem encorajadas, ligadas e amadas.

 

As crianças não ouvem quando se sentem ameaçadas, magoadas ou zangadas. Quando grita, berra ou bate está a desrespeitar a criança, levando-a à dúvida, à vergonha, à culpa ou à rebelião, agora e no futuro. Os castigos e a disciplina pela negativa geram pior comportamento nas crianças. O desafio da parentalidade está em encontrar o equilíbrio, por um lado, entre o cuidar, proteger e guiar e, por outro, permitir que a criança explore, experimente e se torne uma pessoa única e independente. Providenciar o balanço entre a orientação e a independência requer que o papel dos pais, na vida da criança, se adapte enquanto ela cresce. É fundamental que os adultos percebam os efeitos a longo prazo da sua ação com as crianças e como isso pode fazer toda a diferença no seu percurso de vida e no bem-estar familiar, evitando chegar à adolescência do filho a desejar que as coisas tivessem sido diferentes…

 

Reflexão baseada no livro “Positive Discipline for Preschoolers” de Jane Nelsen, Cheryl Erwin e Roslyn Ann Duffy, New York, 2007.

 

Sofia Seabra Gomes- sofia.seabra.gomes@conforsaumen.com.pt

 

A Adição e a Família

O termo adição inclui a dependência química a álcool e drogas, estendendo-se a outros comportamentos aditivos nos quais o objeto de obsessão e compulsão pode ir desde a comida, ao jogo, ao sexo ou ao exercício físico, nomeando apenas as mais frequentes e socialmente reconhecidas como disruptivas do funcionamento adequado de um indivíduo.

Com qualquer funcionamento aditivo, de natureza obsessivo-compulsiva, logo se começa a verificar um grau de inevitabilidade e imprevisibilidade no comportamento que desencadeia e alimenta um estado de progressiva desorganização e caos nas mais diversas áreas. saúde física, estado psiquiátrico e psicológico, relações familiares e sociais, performance profissional, possibilidade de vida espiritual, são áreas que nunca poderão passar incólumes a qualquer padrão de funcionamento dependente que se instale na vida de uma pessoa.

A família, enquanto enquadramento de base das nossas vidas, sede de preenchimento das nossas mais básicas e prementes necessidades é desde logo invadida e progressivamente degradada por este funcionamento patológico, desenvolvendo também ela enquanto núcleo, e cada um dos seus membros, padrões carregados de disfuncionalidade e sofrimento psicológico.

Se é, por exemplo, absolutamente reconhecido que os consumos abusivos e prolongados de uma substância como o álcool, socialmente aceite e cujo abuso é repetidamente desvalorizado, propiciam alterações psicológicas e comportamentais significativas no consumidor abusivo, é igualmente verdadeira a forma como os familiares sofrem consequências similares. Se um alcoólico tem no seu consumo de álcool um seguro fator desencadeante de um estado depressivo, também um familiar próximo, repetidamente exposto à impotência que sente pelo comportamento da pessoa a quem está afetivamente ligado, de quem gosta, com quem se preocupa e angustia, e a quem vê diariamente adoecer, afastar-se, desmotivar-se perante todas as suas tarefas pessoais, sociais e profissionais, no fundo perder o sentido e desmobilizar-se perante a vida, padece de níveis internos de sofrimento que o podem igualmente conduzir a um estado de depressão clínica.

A realidade é que a adição, em todas as suas possíveis manifestações, é uma doença tratável, com sintomas e disfuncionalidades reversíveis. Só que é igualmente uma doença em que, infelizmente numa larga maioria, os que dela sofrem mostram dificuldade e resistência em admiti-la ficando, assim, desde logo mais incapacitados para pedirem a ajuda de que realmente necessitam.

Reconhecer o consumo abusivo de álcool e/ou drogas como problemático, admitir perante si próprio e outros a impotência perante os mesmos, aceitar como real e grave a manifesta incapacidade de controlar um comportamento obsessivo-compulsivo que se foi progressivamente tornando o “centro da vida”, é o primeiro passo para a necessária mudança de atitude perante o problema.

Partindo-se da identificação dos sintomas de dependência e aceitando-se a necessidade de ajuda pode desenvolver-se a busca do plano de intervenção aos níveis médico e psicoterapêutico mais adequado a cada caso individual. Idealmente, este processo de confronto com a doença e consequente procura de estratégias para alcançar um estado de remissão de sintomas é enquadrado num contexto familiar envolvido e implicado. Os familiares são, para além do próprio, os principais lesados pela adição ativa, quem melhor a conhece, descreve e sente na pele. Podem assim também ser, se eles próprios procurarem recuperar-se, agentes da mudança, confrontando o adicto com as consequências da sua dependência e ajudando-o a encaminhar-se para a melhor via de intervenção possível.

Avaliando-se a necessidade de um plano de longa duração pode recorrer-se ao internamento para desabituação física e posterior trabalho psicoterapêutico. Em regime ambulatório é essencial uma avaliação cuidada e profunda para que o trabalho seja adequado ao histórico e recursos disponíveis do indivíduo. É essencial o desenvolvimento de novas competências, a reformulação das estratégias de coping para lidar construtivamente com os sentimentos e situações a que outrora o adicto respondia com o “alívio” imediato dos consumos. Trabalhar consistentemente a motivação para a mudança é igualmente vital para a manutenção de um estado de abstinência e prevenção de recaídas.

A adição provoca anualmente milhares de mortes, por suicídio, acidentes, overdose e sequelas físicas, consequência dos consumos. Sem intervenção adequada muitos dos que sofrem de dependência morrerão prematuramente ou, no mínimo, viverão muito aquém do seu verdadeiro potencial afetivo e espiritual, inviabilizando a família e todos os que deles gostem e sintam na vida como significativos, de ter uma vida plena e satisfatória.

 

Susana Cerqueira

susana.cerqueira@conforsaumen.com.pt

 

Vamos de férias! Qual é a crise?

Quando pesquisamos “férias” + “família” na internet, somos assoberbados por um mundo cibernético de paisagens paradisíacas. Possibilidades de marcação online por preços (aparentemente) reduzidos, fotografias de lugares com areia branca e mar azul turquesa ou campos verdejantes desse mundo encantado no planeta das férias.

Toda esta epopeia digital alimenta em nós, desejosos de “sopas e descanso”, um qualquer mito grego…Estas férias é que vão ser! Imaginamos o direito ao descanso merecido, aos programas em família tão falados ao longo do ano, aos jantares em casal, aos programas com os amigos, à leitura daqueles livros que decoraram a mesa de cabeceira durante todo o ano… E assim, mais coisa menos coisa, partimos para as férias!

A Maria e o António, casados há 15 anos, com 3 filhos de 12, 8 e 4 anos, partem rumo à Costa Alentejana. Depois de um ano intenso de viagens de trabalho, de gestão de escolas e atividades extracurriculares dos miúdos, com a doença da mãe do António, e a irmã da Maria a separar-se, têm vindo a discutir cada vez mais, sentindo ambos que o seu casamento se tem vindo a desmoronar. A Maria pensa ao fechar da porta antes de partir “andamos cansados, agora nas férias fica tudo bem!”.Imbuídos do espírito do mito veranil, viajam entusiasmados com os pais da Maria e mais 2 casais de amigos com os filhos.

No primeiro dia, o António acorda e… os filhos dos amigos invadem a casa logo pela manhã aos gritos a chamar os seus filhos para irem brincar para a praia; a Maria que amanhece rabugenta, culpa-o de ter alugado aquela casa que não tem muros e tem tantas escadas para os seus pais que já não têm idade; os avós, que insistem logo pela manhã em almoçar com os netos na praia, desvalorizando os malefícios solares… E o António resvala do mito do planeta das férias para a realidade.

E assim se vão passando os dias. O jantar com a Maria mais uma vez adiado porque um dos filhos acusa sinais de insolação, o tempo na praia perfeito para acabar aquele livro do Lobo Antunes, interrompido por propostas de jogos com as crianças, aquela saída com os amigos que termina em discussão com a Maria… E assim terminam as férias, com um sabor agridoce, entre o que poderiam ter sido e o que realmente foram.

As nossas famílias estão estruturadas sobre um quotidiano, com um ritmo e rotina próprios que, por vezes, podem esconder as faltas de comunicação, as divergências crónicas, a distância emocional, a falta de intimidade do casal, ou outras múltiplas questões que caraterizam a multiplicidade das famílias. As férias retiram-nos da estrutura habitual, podendo colocar a nu o que estava escondido debaixo do tapete. E se o casal está em crise, as férias imaginadas sobre a expetativa paradisíaca, podem tornar-se um verdadeiro inferno.

E como as más notícias vêm antes, apenas e só, para podermos divulgar as boas, vamos a isso.

Dicas para as férias de um casal (em crise):

1) PLANEAMENTO. Ter os tempos do dia mais ou menos planeados (p. ex.: horários de refeições, horários de sono, programas de casal, programas em família, etc.), permite que todos tenham as expetativas mais alinhadas. Desta forma, diminui-se a probabilidade de tensões ou interferências de terceiros e pode aumentar a capacidade de lidar com imprevistos.

2) EQUILÍBRIO DESCANSO E ATIVIDADE. São ambos importantes e necessários. Existirem em proporções ajustadas à família, e ao tempo que estão a viver, pode ser vital.

3) COMUNICAÇÃO. Encontrar espaço para conversar com o outro. Partilhar em comum. O que se passa connosco? O que cada um sente? Como gostaria de se sentir? O que gostam em cada um? O que gostam no casal que são? O que precisam de melhorar como casal? O que cada um pode fazer por isso?

4) AJUSTAR (E COMUNICAR) EXPETATIVAS é fundamental. Em situação de crise e/ou desencontro, não fazer das férias “a prova que faltava”. Esperar das férias o melhor possível, preparando-se para a existência de tensões. O tempo em comum pode não ser tão saboroso como desejariam nesta fase. Tolerar o desconforto dessa constatação pode ser o primeiro passo para um reencontro. Se correr melhor? Ótimo! Ninguém precisa de dicas sobre como lidar quando corre bem!

5) CRISE NÃO É SINÓNIMO DE RUTURA. Nem no dicionário. Pode, inclusive, significar oportunidade de mudança. Para tal, as férias podem ser altura de parar e perceber o que não está bem. Aceitar que a relação não está como gostariam pode ser um passo doloroso, mas importante. Conversar em casal sobre isso, calmamente, pode ser o início de um novo caminho.

Se as férias tornarem claro que seria útil conversar com alguém, num espaço neutro, sobre o que se passa, ótimo. Para um casal em crise, a terapia de casal pode ser o “ginásio” que é necessário. Cada relação tem os seus “músculos estruturais”. E estes precisam de ser reforçados para que a estrutura não fique “flácida”. Ir ao ginásio não é dramático. Porque seria ir à Terapia de Casal?

 

Boas Férias!

 

Joana Tinoco de Faria

joana.t.faria@conforsaumen.com.pt

Será o meu filho “imaturo” para a escola primária?

Por norma e segundo o sistema educativo português, todas as crianças entram no 1.º ciclo quando fazem 6 anos. Contudo, nem sempre as crianças estão preparadas para esta nova fase das suas vidas, o que deixa pais e educadores bastante apreensivos.

Crianças em idade pré-escolar com distúrbios de fala, perturbações da linguagem e com dificuldades a nível da consciência fonológica (capacidade metalinguística para identificar e manipular os fonemas ou sons que constituem a língua materna), muitas vezes experimentam problemas de aprendizagem de leitura e escrita quando entram na escola. Outros indicativos incluem:linguagem infantil; falta de interesse pela leitura partilhada de um livro; dificuldade em compreender instruções simples e os nomes das letras (inclusive a lembrança das mesmas); incapacidade de reconhecer ou identificar o seu próprio nome.

Com 5 anos de idade é esperado que uma criança comece a reconhecer algumas letras e consiga escrever o seu nome, numa primeira fase a copiar e depois espontaneamente. Nesta etapa da vida é crucial conversar, brincar e ler em conjunto. Experiências adquiridas durante o período pré-escolar, como falar e ouvir, preparam as crianças para aprender a ler e a escrever durante os primeiros anos do ensino primário. Isto significa que as crianças que entram na escola com fracas habilidades verbais são muito mais propensas a ter dificuldades de aprendizagem, do que aquelas que não o fazem.

Alguns casos relatados pelos pais e educadores como “o meu filho troca o f pelo v” ou “fala muito depressa e atrapalha-se” podem ser situações transitórias, que podem ser facilmente ultrapassadas quando encaminhadas para o acompanhamento de um profissional especializado, neste caso de um Terapeuta da Fala.

Devemos ter em conta a presença de antecedentes familiares de dificuldades de aprendizagem, pois vários estudos apontam para fatores hereditários em muitos dos problemas que causam dificuldades em aprender. A intervenção precoce é crucial, sendo mais benéfica quando começa no início do período pré-escolar, uma vez que este tipo de dificuldades são persistentes e muitas vezes afetam ainda mais a linguagem e a literacia ao longo do percurso escolar da criança. Quanto mais cedo usufruírem de apoio especializado, maiores as probabilidades de sucesso.

O Terapeuta da Fala tem um papel fundamental na promoção das competências de literacia emergente de todas as crianças e, especialmente, daquelas com dificuldades de aprendizagem. Pode também ajudar a prevenir esses problemas, identificando as crianças em risco de dificuldades de leitura e escrita, proporcionando uma intervenção para corrigir dificuldades relacionadas com a literacia.

Terapeuta da Fala Patrícia Teixeira

As crianças do final do ano

Devo ou não esperar que o meu filho complete os 6 anos de idade para entrar no 1º ano de escolaridade?

A entrada no 1º ano de escolaridade é uma fase de transição importante na vida de uma criança. Para que esta a consiga vivenciar de uma forma tranquila e saiba lidar com os novos desafios que lhe são exigidos, é muito importante que tenha desenvolvido, previamente e dentro do expectável para a idade, algumas competências fundamentais, tais como: capacidade de resiliência, de persistência, de lidar com o insucesso, de lidar com a frustração, de se relacionar de forma adequada com os pares, de focar a sua atenção nas tarefas por períodos de tempo mais longos, de saber escutar e falar na sua vez e de saber lidar com as suas emoções. Todas estas capacidades permitem que a criança se disponibilize emocionalmente para a aprendizagem conseguindo apresentar, posteriormente, um melhor empenho, um melhor ritmo de trabalho e um melhor desempenho académico, o que contribui para o desenvolvimento da autoestima e autoconfiança da criança cruciais para o seu crescimento.

Brincar no Jardim de Infância representa, assim, um tempo fulcral para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. O investigador David Whitebread da Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge (in “Schoolstarting age: theevidence”, 24 de setembro de 2013), refere que estudos de diferentes áreas como a da antropologia, da psicologia, das neurociências e da educação demonstram que quanto mais uma criança estender o tempo de brincadeira antes de entrar na escola formal, mais probabilidade tem de se tornar num forte aprendiz conduzindo a que tenha resultados superiores a nível académico e motivacional, bem como a um maior bem estar emocional. Quando brinca a criança motiva-se mais por aprender, desenvolve a sua capacidade simbólica e aprende a autorregular-se emocionalmente de forma muito mais profunda do que quando recebe instrução direta dos conteúdos académicos.

O Ministério de educação em Portugal define a entrada obrigatória no 1º ano de escolaridade para as crianças que completam os 6 anos de idade até dia 15 de setembro. As crianças que completam os 6 anos entre 16 de setembro e 31 de dezembro inscrevem-se consoante a decisão dos encarregados de educação, estando dependentes do número de vagas existentes nos respetivos estabelecimentos de ensino.

Os pais muitas vezes sentem que esperar que o seu filho complete os 6 anos de idade para entrar no 1º ano significa perder um ano. No entanto, hoje em dia, sabe-se que não se trata de perder mas sim de ganhar um ano. É comum as crianças que entram para o 1º ano com 5 anos de idade fazerem diferença de quase um ano com outras crianças da mesma turma, acabando por se sentirem, muitas vezes, mais inseguras, ansiosas e desmotivadas para aprender pelas diferenças que sentem em termos de desenvolvimento. São crianças que passam, frequentemente, o seu percurso académico em esforço e que revelam grandes dificuldades em corresponder às exigências que lhes são feitas, principalmente nas mudanças de ciclos, acabando, por vezes, por ter de repetir algum ano de escolaridade. Inevitavelmente a autoestima e autoconfiança destas crianças é muitas vezes prejudicada por irem interiorizando o sentimento diário de incapacidade e inferioridade por não conseguirem corresponder ao que lhes é pedido, por não compreenderem à primeira a matéria, por terem de lidar muitas vezes com o insucesso, por não conseguirem estar atentas durante o mesmo tempo que a maioria dos colegas ou por, consequentemente, ficarem mais irrequietas e distraídas em sala de aula. Estudos realizados no Canadá e nos EUA (Anne Harding in Health.com, 2012) revelam como as crianças mais novas da classe, as do final do ano, têm mais probabilidade de serem diagnosticadas com perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA) e medicadas para o seu tratamento, quando na verdade muitas dessas crianças são apenas imaturas.

Torna-se, assim, crucial perceber a relevância de iniciar de forma positiva o percurso académico das crianças do final do ano, de forma a promover, desde cedo, o seu bem estar emocional e contribuir para que consigam ser crianças confiantes, autónomas e felizes.

Diversos estudos têm sido realizados para fundamentar os benefícios de uma criança entrar no 1º ano de escolaridade só após completar os 6 anos de idade, como o publicado pela NationalBureauofEconomicResearch(Thomas Dee, Hans HenrikSieverstenin “New studydiscoversthebest age for startingschool”, HeidiVanDort, 10 de outubro de 2015) realizado na Dinamarca, que demonstrou que prolongar o tempo no Jardim de Infância e ingressar no 1º ano com 7 anos de idade providencia benefícios mentais para a criança e reduz a ocorrência de desatenção e hiperatividade. Os autores defendem que as crianças que entram mais tarde no ensino formal conseguem autorregular-se melhor, conseguem controlar melhor os seus impulsos e modificar o seu comportamento quando procuram atingir objetivos, resultando, assim, num melhor desempenho académico.

Nem sempre é fácil para um pai aceitar que optar por esperar que o seu filho complete os 6 anos de idade, antes de entrar no 1ºano, é mais vantajoso para o seu crescimento emocional e cognitivo. Assim, para evitar que os pais se deparem com este dilema apenas no final do pré-escolar, apesar das consequências emocionais da criança serem ultrapassáveis, porque não tomar conhecimento prévio dos benefícios que existem para a criança e decidir logo, desde cedo, inscrever o filho na sala correta da Creche ou do Jardim de Infância?

 

Sofia Seabra Gomes- sofia.seabra.gomes@conforsaumen.com.pt

Orientação Vocacional – Aquilo que falta para tomar uma decisão!

É frequente os jovens recorrerem a um psicólogo para iniciarem um processo de Orientação Vocacional. O mais comum são aqueles que estão no 9º ano e que têm de fazer uma opção relativamente ao agrupamento que vão escolher. Cada vez mais este processo é também procurado por jovens que já se encontram a frequentar o ensino secundário e que têm duvidas em relação à escolha que fizeram do agrupamento ou que até tendo optado pela área certa, têm duvidas na escolha do curso universitário.

Os jovens quando procuram um psicólogo, podem estar em diferentes fases:

  • Estão completamente perdidos e não sabem que decisão tomar em relação à área/curso;
  • Têm uma noção do que querem escolher, mas não estão confortáveis com nenhuma das decisões;
  • O curso que querem seguir não coincide com o que os pais desejariam.

 

Não é invulgar este momento ser vivido com alguma ansiedade pelos jovens e pelas suas famílias e, em muitos casos, acabam por tomar decisões arbitrárias que podem desencadear uma escolha desadequada.

A Orientação Vocacional não traz com ela todas as respostas. Pelo contrário, até pode introduzir muitas perguntas e provocar alguma discussão. Sem isto, o jovem não se torna conhecedor de como é, do que lhe desperta interesse e do que é capaz. Ter dúvidas, é sinal de que se tem muitas certezas e de que se questiona. E é na reflexão, questionamento, exploração e experimentação que o jovem começa a perceber a pessoa que existe em si.

O processo de Orientação Vocacional é isto mesmo, um processo. Algo que o jovem vai sentindo como sendo seu e como sendo da sua responsabilidade. Não é o psicólogo que decide, nem mesmo os pais, são os jovens que têm de ir refletindo sobre o seu percurso, as suas competências escolares, as disciplinas de que gostam mais, as áreas com que mais se identificam, o tipo de trabalho que se vêem a realizar e o tipo de vida que querem para si.

Um dos grandes mitos de quem nunca fez uma Orientação Vocacional, é quebrar a ideia que se vai ao psicólogo, faz-se uns testes e vem-se com um resultado, quase que por magia. O processo implica, de facto, uma parte de aplicação de testes psicológicos que são instrumentos fundamentais para a recolha de informação, mas que por si só não conduzem a uma decisão final. É a relação que se estabelece com o psicólogo que faz a diferença, porque esta deve promover a capacidade de o jovem se interrogar sobre o que quer para si: as diferentes ofertas que um curso pode possibilitar, as dificuldades que podem advir do mundo do trabalho, as diferentes competências que precisa desenvolver (soft e hard skills) e a forma como se quer colocar diante de cada uma destas questões.

Este processo não é simples, sobretudo quando existem muitas dúvidas sobre o caminho a seguir. Contudo, quando bem conduzido, ele constitui uma excelente oportunidade de desenvolvimento pessoal e uma boa ocasião para exercitar a sua capacidade de tomada de decisão consciente e informada, capacidade esta que lhe vai ser útil pela vida fora!

Sónia Garrucho- sonia.garrucho@conforsaumen.com.pt

Sofia Menéres- sofia.meneres@conforsaumen.com.pt

Porque é que o Integral Development Coaching é importante?

Desde o momento em que nascemos que, através da educação que recebemos e das experiências que vivenciamos, começamos a perceber que comportamentos são elogiados e que comportamentos são punidos.

Em função disso passamos a agir de determinada forma e estabelecemos um padrão de compromissos e valores. Essa definição condiciona a forma como estamos no mundo, tendo impacto a diversos níveis, nomeadamente ao nível da escolha das pessoas que temos na nossa vida e da forma como atuamos.

Sendo esta a narrativa em que vivemos ela não é visível para nós. É como o ar que respiramos, e com o qual nos sentimos confortáveis.

A nossa narrativa define a nossa estrutura de interpretação. Essa estrutura é formada pela definição de quem sou eu, quem são os outros e o que é possível fazer. Todas as estruturas de interpretação abrem certas possibilidades e fecham outras.

É na necessidade de abrir novas possibilidades que o coaching assume um papel importante. Quando corretamente realizado o coaching permite ao coachee passar a ver-se a si próprio e às suas opções de uma outra forma.

No entanto, para que este processo seja bem sucedido, e contribua para que o coachee consiga desenvolver competências que o ajudem a ultrapassar os desafios da sua vida de forma diferente, é requerido que o coachee tenha um papel ativo no programa de coaching.

A metodologia de Integral Development Coaching tem como base exercícios de auto-observação e auto-reflexão, bem como a prática de exercícios que permitam o desenvolvimento de competências, através da alteração de hábitos e perceções e aumento da capacidade de estar no momento presente.

Cabe ao coach a definição destas práticas e exercícios, sendo que as mesmas deverão ser alteradas ao longo do programa, em função da reflexão e processo de desenvolvimento do coachee.

Em resumo, se quer abrir novas possibilidades, olhar para si mesmo de forma diferente e está disposto a ter um papel ativo no seu processo de desenvolvimento, o coaching é ideal para si.

Para finalizar é importante mencionar que uma relação de coaching assenta em respeito, confiança e liberdade de expressão. Consequentemente, e antes de iniciar um processo de coaching, deverá ter uma conversa exploratória com o coach, para perceber se poderão desenvolver uma relação com estas características. Não deixe também de perguntar qual a escola de coaching que frequentou, se é certificado e qual a sua experiência como coach.

Finalmente é importante perceber se o coach tem capacidade de olhar para si próprio, questionar-se e interrogar-se sobre o que o faz correr. Um coach que não consiga olhar para si, nunca conseguirá ajudar os outros.

Anabela Possidónio

anabela_possidonio@yahoo.com

Conversas informais com Margarida Cordo

Conversas informais com Margarida Cordo Canal - https://youtube.com @conversasinformaiscommarga8883

Sentido de missão ou imperioso apelo ao indevido destaque

Jornal eletrónico “Sete Margens”, Artigo - https://setemargens.com/sentido-de-missao-ou-imperioso-apelo-ao-indevido-destaque/ …

Abusar de nós

Jornal eletrónico “Sete Margens”, Artigo - https://setemargens.com/abusar-de-nos/ Margarida Cordo | 28 Abr 2023 Nos …