Mês: <span>Abril 2017</span>

As crianças do final do ano

Devo ou não esperar que o meu filho complete os 6 anos de idade para entrar no 1º ano de escolaridade?

A entrada no 1º ano de escolaridade é uma fase de transição importante na vida de uma criança. Para que esta a consiga vivenciar de uma forma tranquila e saiba lidar com os novos desafios que lhe são exigidos, é muito importante que tenha desenvolvido, previamente e dentro do expectável para a idade, algumas competências fundamentais, tais como: capacidade de resiliência, de persistência, de lidar com o insucesso, de lidar com a frustração, de se relacionar de forma adequada com os pares, de focar a sua atenção nas tarefas por períodos de tempo mais longos, de saber escutar e falar na sua vez e de saber lidar com as suas emoções. Todas estas capacidades permitem que a criança se disponibilize emocionalmente para a aprendizagem conseguindo apresentar, posteriormente, um melhor empenho, um melhor ritmo de trabalho e um melhor desempenho académico, o que contribui para o desenvolvimento da autoestima e autoconfiança da criança cruciais para o seu crescimento.

Brincar no Jardim de Infância representa, assim, um tempo fulcral para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. O investigador David Whitebread da Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge (in “Schoolstarting age: theevidence”, 24 de setembro de 2013), refere que estudos de diferentes áreas como a da antropologia, da psicologia, das neurociências e da educação demonstram que quanto mais uma criança estender o tempo de brincadeira antes de entrar na escola formal, mais probabilidade tem de se tornar num forte aprendiz conduzindo a que tenha resultados superiores a nível académico e motivacional, bem como a um maior bem estar emocional. Quando brinca a criança motiva-se mais por aprender, desenvolve a sua capacidade simbólica e aprende a autorregular-se emocionalmente de forma muito mais profunda do que quando recebe instrução direta dos conteúdos académicos.

O Ministério de educação em Portugal define a entrada obrigatória no 1º ano de escolaridade para as crianças que completam os 6 anos de idade até dia 15 de setembro. As crianças que completam os 6 anos entre 16 de setembro e 31 de dezembro inscrevem-se consoante a decisão dos encarregados de educação, estando dependentes do número de vagas existentes nos respetivos estabelecimentos de ensino.

Os pais muitas vezes sentem que esperar que o seu filho complete os 6 anos de idade para entrar no 1º ano significa perder um ano. No entanto, hoje em dia, sabe-se que não se trata de perder mas sim de ganhar um ano. É comum as crianças que entram para o 1º ano com 5 anos de idade fazerem diferença de quase um ano com outras crianças da mesma turma, acabando por se sentirem, muitas vezes, mais inseguras, ansiosas e desmotivadas para aprender pelas diferenças que sentem em termos de desenvolvimento. São crianças que passam, frequentemente, o seu percurso académico em esforço e que revelam grandes dificuldades em corresponder às exigências que lhes são feitas, principalmente nas mudanças de ciclos, acabando, por vezes, por ter de repetir algum ano de escolaridade. Inevitavelmente a autoestima e autoconfiança destas crianças é muitas vezes prejudicada por irem interiorizando o sentimento diário de incapacidade e inferioridade por não conseguirem corresponder ao que lhes é pedido, por não compreenderem à primeira a matéria, por terem de lidar muitas vezes com o insucesso, por não conseguirem estar atentas durante o mesmo tempo que a maioria dos colegas ou por, consequentemente, ficarem mais irrequietas e distraídas em sala de aula. Estudos realizados no Canadá e nos EUA (Anne Harding in Health.com, 2012) revelam como as crianças mais novas da classe, as do final do ano, têm mais probabilidade de serem diagnosticadas com perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA) e medicadas para o seu tratamento, quando na verdade muitas dessas crianças são apenas imaturas.

Torna-se, assim, crucial perceber a relevância de iniciar de forma positiva o percurso académico das crianças do final do ano, de forma a promover, desde cedo, o seu bem estar emocional e contribuir para que consigam ser crianças confiantes, autónomas e felizes.

Diversos estudos têm sido realizados para fundamentar os benefícios de uma criança entrar no 1º ano de escolaridade só após completar os 6 anos de idade, como o publicado pela NationalBureauofEconomicResearch(Thomas Dee, Hans HenrikSieverstenin “New studydiscoversthebest age for startingschool”, HeidiVanDort, 10 de outubro de 2015) realizado na Dinamarca, que demonstrou que prolongar o tempo no Jardim de Infância e ingressar no 1º ano com 7 anos de idade providencia benefícios mentais para a criança e reduz a ocorrência de desatenção e hiperatividade. Os autores defendem que as crianças que entram mais tarde no ensino formal conseguem autorregular-se melhor, conseguem controlar melhor os seus impulsos e modificar o seu comportamento quando procuram atingir objetivos, resultando, assim, num melhor desempenho académico.

Nem sempre é fácil para um pai aceitar que optar por esperar que o seu filho complete os 6 anos de idade, antes de entrar no 1ºano, é mais vantajoso para o seu crescimento emocional e cognitivo. Assim, para evitar que os pais se deparem com este dilema apenas no final do pré-escolar, apesar das consequências emocionais da criança serem ultrapassáveis, porque não tomar conhecimento prévio dos benefícios que existem para a criança e decidir logo, desde cedo, inscrever o filho na sala correta da Creche ou do Jardim de Infância?

 

Sofia Seabra Gomes- sofia.seabra.gomes@conforsaumen.com.pt

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