Terapia Familiar? É que nem pensar!
A Rita e a Sílvia conseguiram ir almoçar, depois das inúmeras tentativas, no meio do seu dia a dia tão atarefado.
“Não imaginas! Bem que nos avisam que esta fase dos filhos adolescentes é tramada! Achamos sempre que os problemas acontecem é com os filhos dos outros…” – desabafa a Rita.
A Sílvia, alarmada, pergunta: “Mas o que se passa? Com qual deles?”
“É a minha filha Maria, de 18 anos, desde há uns meses que anda com uns comportamentos muito estranhos: desconfiada, tudo o que dizemos parece que é para a atacar, reage com imensa agressividade, ora está aos gritos ora está enfiada no quarto e ninguém pode entrar… Não sei mais o que fazer!”
” Mas o que achas que aconteceu?”
” Isto começou com o fim de uma amizade muito intensa que a Maria tinha. Esta amiga dela, começou a dar-se com outro grupo de amigos e a Maria parece não ter superado esse afastamento. Queres saber que começou a perseguir a outra miúda, a achar que a miúda e os outros amigos andavam a dizer coisas dela…. Olha parece aquelas coisas de filme!”
” E já pediste ajuda? Olha, há um ano e tal, o meu irmão e a minha cunhada que também estavam com uns problemas com o filho do meio, disseram-me que tinham ido a uma consulta de terapia familiar e que tinha sido bom para eles. Já pensaste nisso?”
“És maluca?! Expor a família inteira? Dá-me um bocado a sensação de estar a lavar a roupa suja em público, não achas?”
“Sinceramente, compreendo-te porque eu também pensava assim. Quando o meu irmão e a minha cunhada me falaram disso, eu também fiquei desconfiada. Mas depois fui assistindo ao percurso deles e noto diferenças! O meu sobrinho que é um miúdo muito rebelde, na altura andava a faltar à escola, sempre com umas companhias esquisitas e com um péssimo feitio em casa. Os pais estavam desesperados!”
A Rita, ainda cética, questiona a amiga: “Então e que diferenças notas? Não me digas que ele agora é o melhor aluno da turma?!”
“Oh Rita, claro que as coisas não mudam de um momento para o outro, mas a principal diferença que noto é na relação entre todos. Nessa altura, ias lá a casa e era berros o tempo inteiro, porque o meu irmão e a minha cunhada não suportavam a insolência e a aparente indiferença dele! A verdade é que ele voltou a ir às aulas, conseguiu recuperar as notas e passar de ano, e vejo-o francamente melhor, mais alegre, mais encontrado, …”
“Dá-me lá o contacto da tua cunhada para perceber melhor o que é essa tal coisa da Terapia Familiar…”
Tal como na família da Rita, do Luís, da Maria, assim acontece nas nossas famílias. Há padrões de comunicação que se vão estabelecendo e dominando as nossas interações, muito úteis em determinadas fases do desenvolvimento, mas que têm o seu “prazo de validade”. À medida que a família vai mudando e as fases do ciclo de vida se vão alterando, são necessárias novas ferramentas para os novos desafios que vão surgindo.
A Terapia Familiar é um processo de acompanhamento da família, em etapas que a família sente que as ferramentas que tem, não são suficientes ou adequadas, para lidar com a exigência dos desafios que a vida lhe apresenta. E o Terapeuta Familiar é como um treinador da equipa que, fazendo parte desta, observa de fora e devolve o que vê, ouve, sente e pensa. Com estes novos inputs, família e terapeuta juntos, podem experimentar novas técnicas e táticas, mais adaptadas ao “jogo” que as circunstâncias apresentam à família. E nesta dinâmica conjunta, a mudança pode acontecer…
Joana Tinoco de Faria