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Adição na Família… (A)normal disfuncionalidade

A adição a álcool e drogas é uma doença crónica tratável e a sua recuperação é um “assunto” de Família.

Durante os períodos que podemos apelidar de adição ativa, pautados pelo consumo abusivo e continuado das substâncias psicoativas, o adicto é considerado “o problema”. Quando este mostra disponibilidade para se envolver em qualquer tipo de intervenção terapêutica, procurando um caminho para a abstinência e uma nova forma de vida, a família em seu redor agarra esta possibilidade com fervor. Investe-se tempo pessoal, recursos financeiros psicológicos, motivacionais, numa tentativa para que o nosso familiar se restabeleça. Paralelamente a este processo parece sempre minimizar-se, de um modo notório mas objetivamente incompreensível, a devastação que a própria família sofreu com a adição ativa.   

Para o adicto a recuperação significa uma vida nova. Significa confrontar-se consigo mesmo. Significa aceitar-se como um ser humano com valor, sem álcool e drogas. Significa responsabilizar-se profundamente por si mesmo; aprender a reger-se por um reconstruído quadro de valores e reformular padrões comportamentais minados pela toxicidade auto-destrutiva das substâncias. Este caminho exige coragem e a ajuda da sua família, mas a realidade é que esta precisa, ela própria, de ajuda, pois sofreu as consequências da dependência tal como o adicto. E real é também a sua possibilidade de se “tratar” e readquirir um estilo de vida saudável, mesmo que o “seu” adicto não consiga ele próprio entrar em recuperação.

Este é um processo complexo. Todas as mudanças implicam profundos reajustamentos e normalmente os familiares não antecipam a necessidade de eles próprios precisarem de mudar, e de terem ajuda para tal. A forma como se organizaram, na maioria dos casos durante anos, em torno do problema, habituando-se e sobrevivendo, “normalizou” uma disfuncionalidade permanente na forma de viver, de pensar, de sentir, de agir.

Para um adicto, entrar em recuperação, assumir o objetivo da abstinência e um consequente novo estilo de vida, implica assumir uma série de perdas. As próprias substâncias, amigos e locais de consumo, rotinas diárias e padrões comportamentais ritualizados são apenas algumas destas perdas mais óbvias. Compreensivelmente, pensa-se no imediato que perder uma série de coisas más e geradoras de sofrimento não causará nenhum impacto. Mas não é assim. Mesmo a perda da dor, se falamos de uma dor habitual, implica reajustar-se. Veja pequenos mas notórios exemplos de como reagimos à mudança. Vive-se num apartamento numa qualquer esquina de cidade onde o ruído das pessoas e do trânsito faz parte do dia a dia. Não se descansa muito bem, mas dorme-se. Procura-se umas férias no campo, buscando calma, e descobre-se que, nas primeiras noites, não se consegue dormir, estranhando o silêncio ou os barulhos da Natureza. O crescimento e saída de casa dos filhos. À satisfação e alívio de os ver iniciar uma nova etapa das suas vidas pode contrapor-se uma profunda tristeza causada pela separação. A situação de reforma, olhada antecipadamente como uma recompensa por uma vida de trabalho, que por vezes leva as pessoas a descobrirem não estar preparadas para a perda das suas ocupações diárias, deprimindo-se e desorganizando-se num dia a dia agora sentido como “vazio”. É deste tipo de reação à perda que falamos.  

Nestes exemplos, tal como na família de um adicto, pode estar a dar-se a perda de um peso negativo, mas também de um foco importante e que se tornou estrutural na vida familiar. E, por isso, apesar de “ilógicos”, estes sentimentos de perda e alguma desorganização são muito reais e naturais, com uma consequente necessidade de reajustamento. A adição tornou-se uma parte tão central da vida da família que, quando se começa a desvanecer, e a desejada mudança e remissão de alguns sintomas da doença começa a acontecer, algo parece faltar ao seu funcionamento “normal”. Olhe-se, questione-se, procure ajuda para si, enquanto familiar que sofre, enquanto pessoa que merece e pode viver para além das dinâmicas e dramas reais da adição.

Susana Cerqueira  

Porque é que as crianças crescem tanto nas “Férias grandes”?

Tempo, dedicação, disponibilidade, atenção, divertimento, lazer, brincadeira… alguns dos fenómenos chave que se proporcionam no período de férias entre as crianças e quem de mais valor tem para si – a FAMÍLIA.

A família é com quem a criança estabelece uma relação primordial de proximidade e que representa o pilar para a construção de um “Eu” individual e social.

Durante o ano é normal as famílias deixarem-se absorver pelo stress diário das rotinas e pelas exigências do trabalho, esquecendo-se facilmente de dedicar tempo a brincar com os seus filhos. Quando vão de férias, todo este cenário se altera. Deixa de existir o stress do dia a dia, sendo que o stress tem um grande impacto nas hormonas do crescimento; há maior flexibilidade nas regras e rotinas e o foco deixa de estar no trabalho, passando a estar na relação com os outros. As crianças sentem que os pais gostam de estar consigo e que lhes dão uma atenção total. Sentem-se mais livres de horários e aprendem a lidar com o “não ter nada organizado para fazer”!

Nas férias há tempo para brincar, tempo para falar, tempo para rir e tempo para “consolar” quando é preciso. É uma altura do ano em que os momentos positivos e de descontração são maiores do que os negativos, o que contribui para a saúde mental das crianças e ajuda a construir um “Eu” mais sólido, positivo e confiante (Margot Sunderland, “The science behind how holidays make your child happier and smarter” , The Telegraph, 1 fevereiro de 2017).

Através da brincadeira livre, em que os pais têm oportunidade de se envolver totalmente com os filhos, as crianças conseguem criar e explorar um mundo à sua maneira, vencendo os seus medos e fortalecendo a sua relação com os pais. O “Brincar” representa uma excelente maneira para os pais perceberem melhor a perspetiva dos seus filhos e aprenderem a comunicar melhor e de forma mais eficaz com eles (Kenneth R. Ginsburg, The Importance of Play in Promoting Healthy Child Development and Maintaining Strong Parent-Child Bonds, Janeiro 2007).

De facto, muitos pais não têm consciência dos profundos e longínquos benefícios que as férias, que passam com os seus filhos, têm no seu crescimento. Alguns investigadores falam-nos da melhoria na destreza física, na saúde mental das crianças, no crescimento em altura e peso (Timothy Olds, University of South Australia, 2017), assim como no desenvolvimento do cérebro durante as férias grandes em família. Fazer atividades diferentes, ir a sítios onde nunca foram e passarem por novas experiências sociais, cognitivas e sensoriais, contribuem para o desenvolvimento do lobo frontal do cérebro como, por exemplo, o enriquecimento das funções executivas, nomeadamente a autorregulação das emoções, atenção, concentração, planeamento e capacidade de aprendizagem (Margot Sunderland, 1 fevereiro de 2017).

Segundo Sunderland, este desenvolvimento mais rápido do cérebro ocorre porque nas férias se exercitam especificamente dois sistemas envolvidos na área límbica do cérebro (área responsável por várias funções, de que são exemplo emocionais e comportamentais), que ativam neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar, incluindo oxitocina e dopamina.

Jaak Panksepp (2016), neurocientista, explica que no período de férias em família ocorre uma interação dinâmica entre três sistemas emocionais, pertencentes às sete emoções primárias, que proporcionam um sentido de segurança na criança, de tal forma que estimulam zonas do cérebro a ponto de combater estados emocionais mais negativos, como a depressão: o “Seeking System” associado ao entusiasmo; “Care System” associado ao afeto e amor; e “Play System” associado à alegria (The science of emotions: Jaak Panksepp at TEDxRainier). Estes sistemas são como músculos: quanto mais forem usados, mais se tornam parte integrante da personalidade da criança.

Desta forma, ao ativar e fortalecer os “Play and Seeking Systems” do cérebro, nas férias em família, contribui-se para o desenvolvimento e maturação do cérebro na área do lobo frontal, responsável pelo funcionamento cognitivo e inteligência social, que perdurará pela vida inteira. (Panksepp, 2015; Burgdorf et al, 2010, cit in Sunderland).

As férias em família proporcionam, assim, uma maior harmonia, cooperação e entendimento entre os membros familiares. Fortalecem os laços afetivos e as bases para uma maior independência e segurança da criança para enfrentar o mundo à sua volta. Brincar livremente e passar tempo de qualidade com os filhos, ajuda, sem dúvida, as crianças a crescer e a melhorar as suas competências pessoais e sociais, ficando mais bem preparadas para o futuro!

Sofia Seabra Gomes
sofia.seabra.gomes@conforsaumen.com.pt

Conversas informais com Margarida Cordo

Conversas informais com Margarida Cordo Canal - https://youtube.com @conversasinformaiscommarga8883

Sentido de missão ou imperioso apelo ao indevido destaque

Jornal eletrónico “Sete Margens”, Artigo - https://setemargens.com/sentido-de-missao-ou-imperioso-apelo-ao-indevido-destaque/ …

Abusar de nós

Jornal eletrónico “Sete Margens”, Artigo - https://setemargens.com/abusar-de-nos/ Margarida Cordo | 28 Abr 2023 Nos …