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Vamos de férias! Qual é a crise?

Quando pesquisamos “férias” + “família” na internet, somos assoberbados por um mundo cibernético de paisagens paradisíacas. Possibilidades de marcação online por preços (aparentemente) reduzidos, fotografias de lugares com areia branca e mar azul turquesa ou campos verdejantes desse mundo encantado no planeta das férias.

Toda esta epopeia digital alimenta em nós, desejosos de “sopas e descanso”, um qualquer mito grego…Estas férias é que vão ser! Imaginamos o direito ao descanso merecido, aos programas em família tão falados ao longo do ano, aos jantares em casal, aos programas com os amigos, à leitura daqueles livros que decoraram a mesa de cabeceira durante todo o ano… E assim, mais coisa menos coisa, partimos para as férias!

A Maria e o António, casados há 15 anos, com 3 filhos de 12, 8 e 4 anos, partem rumo à Costa Alentejana. Depois de um ano intenso de viagens de trabalho, de gestão de escolas e atividades extracurriculares dos miúdos, com a doença da mãe do António, e a irmã da Maria a separar-se, têm vindo a discutir cada vez mais, sentindo ambos que o seu casamento se tem vindo a desmoronar. A Maria pensa ao fechar da porta antes de partir “andamos cansados, agora nas férias fica tudo bem!”.Imbuídos do espírito do mito veranil, viajam entusiasmados com os pais da Maria e mais 2 casais de amigos com os filhos.

No primeiro dia, o António acorda e… os filhos dos amigos invadem a casa logo pela manhã aos gritos a chamar os seus filhos para irem brincar para a praia; a Maria que amanhece rabugenta, culpa-o de ter alugado aquela casa que não tem muros e tem tantas escadas para os seus pais que já não têm idade; os avós, que insistem logo pela manhã em almoçar com os netos na praia, desvalorizando os malefícios solares… E o António resvala do mito do planeta das férias para a realidade.

E assim se vão passando os dias. O jantar com a Maria mais uma vez adiado porque um dos filhos acusa sinais de insolação, o tempo na praia perfeito para acabar aquele livro do Lobo Antunes, interrompido por propostas de jogos com as crianças, aquela saída com os amigos que termina em discussão com a Maria… E assim terminam as férias, com um sabor agridoce, entre o que poderiam ter sido e o que realmente foram.

As nossas famílias estão estruturadas sobre um quotidiano, com um ritmo e rotina próprios que, por vezes, podem esconder as faltas de comunicação, as divergências crónicas, a distância emocional, a falta de intimidade do casal, ou outras múltiplas questões que caraterizam a multiplicidade das famílias. As férias retiram-nos da estrutura habitual, podendo colocar a nu o que estava escondido debaixo do tapete. E se o casal está em crise, as férias imaginadas sobre a expetativa paradisíaca, podem tornar-se um verdadeiro inferno.

E como as más notícias vêm antes, apenas e só, para podermos divulgar as boas, vamos a isso.

Dicas para as férias de um casal (em crise):

1) PLANEAMENTO. Ter os tempos do dia mais ou menos planeados (p. ex.: horários de refeições, horários de sono, programas de casal, programas em família, etc.), permite que todos tenham as expetativas mais alinhadas. Desta forma, diminui-se a probabilidade de tensões ou interferências de terceiros e pode aumentar a capacidade de lidar com imprevistos.

2) EQUILÍBRIO DESCANSO E ATIVIDADE. São ambos importantes e necessários. Existirem em proporções ajustadas à família, e ao tempo que estão a viver, pode ser vital.

3) COMUNICAÇÃO. Encontrar espaço para conversar com o outro. Partilhar em comum. O que se passa connosco? O que cada um sente? Como gostaria de se sentir? O que gostam em cada um? O que gostam no casal que são? O que precisam de melhorar como casal? O que cada um pode fazer por isso?

4) AJUSTAR (E COMUNICAR) EXPETATIVAS é fundamental. Em situação de crise e/ou desencontro, não fazer das férias “a prova que faltava”. Esperar das férias o melhor possível, preparando-se para a existência de tensões. O tempo em comum pode não ser tão saboroso como desejariam nesta fase. Tolerar o desconforto dessa constatação pode ser o primeiro passo para um reencontro. Se correr melhor? Ótimo! Ninguém precisa de dicas sobre como lidar quando corre bem!

5) CRISE NÃO É SINÓNIMO DE RUTURA. Nem no dicionário. Pode, inclusive, significar oportunidade de mudança. Para tal, as férias podem ser altura de parar e perceber o que não está bem. Aceitar que a relação não está como gostariam pode ser um passo doloroso, mas importante. Conversar em casal sobre isso, calmamente, pode ser o início de um novo caminho.

Se as férias tornarem claro que seria útil conversar com alguém, num espaço neutro, sobre o que se passa, ótimo. Para um casal em crise, a terapia de casal pode ser o “ginásio” que é necessário. Cada relação tem os seus “músculos estruturais”. E estes precisam de ser reforçados para que a estrutura não fique “flácida”. Ir ao ginásio não é dramático. Porque seria ir à Terapia de Casal?

 

Boas Férias!

 

Joana Tinoco de Faria

joana.t.faria@conforsaumen.com.pt

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